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Melhore a avaliação e tratamento com a Zona de Transformação

Por Marcus Lima em 07 de setembro de 2021

Artigo que fala sobre um conceito chamado “Zona de Transformação”, muito utilizado no Gray Institute e de sua visão particular de treinamento funcional, ou para usar o termo que cada vez mais é utilizado: Treinamento Tridimensional.

Esta é uma adaptação de 2 artigos menores que transformei em um só um pouco mais abrangente.

Boa leitura.

 

Melhore a avaliação e tratamento com a Zona de Transformação

Gray Institute

 

Zonas de transformação são críticas para o movimento humano, ainda assim, elas são subestimadas pelos profissionais. Neste artigo vamos descrever o que as pessoas precisam saber a respeito.

 

O que é uma Zona de Transformação?

Zonas de transformação são as partes do movimento total em que existe mudança de direção – de carga/load para explodir/explode. Quando há uma transição no movimento de load para explode a energia é transformada nesta zona.

(N.T: Neste artigo por vezes vou optar por deixar as duas palavras em inglês: Load e Explode. Load pode ser mais ou menos entendido por “carga excêntrica”, embora nem sempre seja esse o caso, mas é mais fácil de compreender assim. “Explode” pode ser entendido como o movimento subsequente à ação excêntrica, a parte concêntrica, que eles chamam de “explode” ou “explodir, explosão” em português. A figura abaixo ilustra o ponto).

Zona de transformação no salto (load / explode).

“Load e Explode” descrevem como o sistema musculoesquelético coloca “carga” em uma ação (load) ao se mover na direção contrária à do objetivo pretendido. Para saltar para cima, primeiro precisamos ir para baixo. A zona de transformação é o momento em que seu corpo transforma a energia do colapso para baixo em aceleração para cima.

Para arremessar uma bola para frente, precisamos primeiro alcançar para trás. Para atingir uma bola de golfe com o taco e manda-la para o alvo, precisamos mover o taco para longe da bola primeiro. Precisamos “carregar/load” o movimento para “explodir/explode”.

Zona de transformação no arremesso (load / explode).

Zona de transformação no swing do golfe (load / explode).

Zonas de transformação são essenciais para o movimento. Não se pode explodir sem haver uma carga excêntrica antes, daí o porquê de não se conseguir saltar sem agachar primeiro. Zonas de transformação não são somente uma maneira de se analisar movimento com um pouco de senso comum, elas são uma ferramenta eficiente e efetiva de determinar se as pessoas são funcionais em seus movimentos.

Zona de transformação é a parte do movimento global onde os músculos – reagindo aos movimentos articulares – mudam de uma carga excêntrica (load) para explosão concêntrica (explode). A carga absorvida durante o load se transforma em energia para o explode.

A mudança na direção das partes do corpo não é simultânea. Movimentos globais efetivos e eficientes demonstram uma sequência particular de reversão de movimentos articulares que maximizam essa carga excêntrica/load nos tecidos corporais.

Essa sequência de load/explode define a Zona de Transformação, a reversão de movimentos articulares e a geração de energia.


N.T: Uma nota um pouco mais longa e detalhada a respeito de sequência de movimentos articulares. Na imagem abaixo, vamos detalhar os movimentos articulares no instante em que o indivíduo desce – circulado em amarelo.

Zonas de transformação - ataque no vôlei de praia.

No momento em que ele agacha na preparação para o salto:

Eversão do calcâneo – fazendo com que o tálus incline e rode internamente. A imagem abaixo, do momento em que um pé direito pisa no solo, mostra alguns dos movimentos articulares: O tálus roda e inclina para esquerda, como está ligado na tíbia, o tálus faz com que a tíbia também rode para esquerda.

Início da zona de transformação do pé tocando o solo.

Tornozelo: Uma “terminologia aplicada” (de acordo com Neumann, D. Cinesiologia do Aparelho Musculoesquelético 2ª Ed. Elsevier, 2011) descreve o movimento do conjunto pé/tornozelo nesse caso como Pronação: Com elementos de eversão, abdução, dorsiflexão.

Rotação interna da tíbia – causada pela rotação interna do tálus (ao qual a tíbia está conectada – ver imagem logo acima).

Joelho: Flexão (o mais óbvio); Abdução (o joelho é levado para dentro nesta sequência de movimentos, o ângulo não é o melhor na imagem da preparação para o salto, mas se percebe isso); Rotação interna – o joelho experimenta rotação interna em virtude da tíbia estar internamente rodada (Assunto que cobrimos em nosso e-book: Pensando em 3 Dimensões).

Quadril: Flexão, adução e rotação interna.

A figura abaixo resume alguns dos movimentos articulares que ocorrem no agachamento em preparação para o salto.

Movimentos articulares na descida do agachamento.


Como o conhecimento das Zonas de Transformação pode ajudar a fornecer o melhor tratamento

O movimento humano é complexo e muitas abordagens tradicionais e análises de movimento falham porque recaem em protocolos e séries engessadas de exercícios. Você pode usar zonas de transformação de movimentos gerais e específicos de uma determinada atividade e observar como o corpo lida com o desafio.

A avaliação que usamos, o 3DMaps, ensina aos profissionais do movimento como analisar os indivíduos nos 3 planos de movimento usando uma abordagem funcional.

Com esta abordagem ganhamos entendimento das zonas de transformação, ajudando a identificar problemas em qualquer movimento.

(N.T: O 3D Maps – sigla para “3D Movement Analysis and Performance System”, traduzindo: “Sistema de Análise e Desempenho Tridimensional do Movimento”. É a avaliação usada pelo pessoal do Gray Institute. A seguir as cadeias que são analisadas nos 3 planos de movimento).

Na pedagogia do 3DMaps, existem 6 zonas de transformação vitais. A beleza disto é que todo movimento humano é baseado nestes 6 movimentos, que são Cadeias de Reação direcionadas pelas mãos e pés:

Plano sagital

Zonas de transformação das cadeias de reação do plano sagital.

  • Cadeia de reação anterior:  O início do movimento é mostrado na imagem, parado com os braços apontando para frente (na altura do ombro). Pisar à frente balançando os braços para cima. A análise se dá no lado do pé de apoio (circulado em verde).
  • Cadeia de reação posterior: O início do movimento é mostrado na imagem, parado com os braços apontando para frente (na altura do ombro). Pisar para trás balançando os braços para trás. A análise se dá no lado do pé de apoio (circulado em verde).

 

Plano frontal

Zonas de transformação das cadeias de reação do plano frontal.

  • Cadeia de reação lateral do mesmo lado: O início do movimento é mostrado na imagem, parado com os braços para cima e palmas das mãos para frente. Pisar para o lado balançando os braços acima da cabeça para o lado contrário. A análise se dá no lado do pé de apoio (circulado em verde). A razão por chamarem essa cadeia de “mesmo lado” se dá em virtude do pé esquerdo (na foto) estar se movendo para esquerda.
  • Cadeia de reação lateral do lado oposto: O início do movimento é mostrado na imagem, parado com os braços para cima e palmas das mãos para frente. Pisar cruzado para o lado balançando os braços acima da cabeça para o lado contrário. A análise se dá no lado do pé de apoio (circulado em verde). A razão por chamarem essa cadeia de “lado oposto” se dá em virtude do pé esquerdo (na foto) estar se movendo para direita.

 

Plano transverso

Zonas de transformação das cadeias de reação do plano transverso.

  • Cadeia de reação rotacional do mesmo lado: O início do movimento é mostrado na imagem, parado com os braços apontando para frente (na altura do ombro) e palmas das mãos para baixo. Pisar rodando para trás balançando os braços para trás na altura do ombro. A análise se dá no lado do pé de apoio (circulado em verde). O “mesmo lado” foi explicado anteriormente: Pé esquerdo se move para esquerda, pé direito se move para direita.
  • Cadeia de reação rotacional do lado oposto: O início do movimento é mostrado na imagem, parado com os braços apontando para frente (na altura do ombro) e palmas das mãos para baixo. Pisar rodando para frente balançando os braços rodando para frente na altura do ombro. A análise se dá no lado do pé de apoio (circulado em verde). O “lado oposto” foi explicado anteriormente: Pé esquerdo se move para direita, pé direito se move para esquerda.

Esses 6 movimentos, modificados para analisar mobilidade e estabilidade, capacitam o profissional para rapidamente captar informação importante a respeito de como o corpo integra movimentos articulares em uma tarefa que usa o corpo todo.

(N.T: Os movimentos do 3D Maps mostrados acima são os que eles, do Gray Institute, chamam de “Análise de Mobilidade”. Para enfatizar estabilidade, são realizados movimentos similares com apoio unipodal).

Quando alguém não experiencia problemas, pode subir/descer degraus, girar, fazer qualquer movimento sem problema. No entanto, quando eles aparecem ficam evidentes à medida que o indivíduo se move ao longo dessas cadeias.

A biomecânica dentro das zonas de transformação aumenta nossa compreensão. Nos 6 movimentos acima, os 66 movimentos dos complexos articulares primários do corpo são facilitados.

(N.T: Eles elencaram 11 complexos articulares principais no corpo humano, como todos estes estão sujeitos a dois movimentos em cada um dos 3 planos, o total disso tudo compõe 66 movimentos articulares. A tabela abaixo mostra todos eles).

Quadro dos 66 movimentos articulares fundamentais.

Todo movimento humano está encapsulado nas Zonas de Transformação. Por causa dessa forma compreensiva de analisar movimento, mobilidade, estabilidade e disfunção, elas nos dão as ferramentas para identificar o que está errado e oportunidades para os indivíduos melhorarem e se curarem (em caso de haver lesão e/ou dor).

 

Como usamos as Zonas de Transformação no Gray Institute

Uma vez que entenda como o corpo integra movimento das articulações individuais dentro de um movimento global, você pode projetar zonas de transformação adicionais de movimentos específicos para seu paciente/aluno/atleta, usando-as para treinar o indivíduo com o qual está trabalhando.

Um bom exemplo é modificar a zona de transformação dos movimentos, modificar um movimento bem sucedido para aumentar o desafio e transformar movimentos outrora malsucedidos em um sucesso.

Entender as zonas de transformação também permite que prescrevamos programas únicos para cada indivíduo. Sempre que um novo recurso é adicionado ao corpo do aluno/paciente (flexibilidade, força, equilíbrio, potência), se pode prescrever um programa usando a zona de transformação para se assegurar que o corpo possa integrar este novo recurso na execução das tarefas.

Quando entendemos a biomecânica da zona de transformação e o 3DMaps, temos a capacidade e oportunidade de desenvolver estratégias para melhorar a vida das pessoas.

Zonas de transformação das cadeias de reação do plano sagital.


Artigos Originais:

Instituto Fortius