Artigo que fala a respeito das bandagens elásticas (Kinesio tape), o que são, qual sua importância no tratamento e dá exemplos de como funcionam.
Em termos de nomenclatura é comum vermos: Bandagem elástica, bandagem funcional, Kinesio Tape.
A Kinesio Tape (KT) foi introduzida pela primeira vez em 1979 no Japão e na década de 90 nos Estados Unidos. A KT é uma fita adesiva elástica que, ao contrário da bandagem atlética tradicional, pode ser esticada em até 140% de seu comprimento de repouso. Esse valor é aproximadamente a capacidade de alongamento da pele normal, a qual a KT visa assemelhar-se.
Após a aplicação da KT e a partir do seu potencial elástico, a fita pode recuar e microscopicamente levantar a pele, aliviando o desconforto e facilitando a drenagem linfática. Este efeito de elevação aumenta o espaço intersticial entre a pele e o tecido miofascial, o que diminui a inflamação, reduz a pressão e permite um fluxo mais eficaz de sangue e fluido linfático dentro e fora da área alvo de aplicação. Portanto, a Kinesio Tape (KT) é uma técnica terapêutica projetada para acelerar o processo de cura natural.
A popularização do uso da KT ocorreu principalmente a partir dos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008, onde a empresa Kinesio fez uma grande doação de bandagens elásticas para a competição estimando um aumento no reconhecimento e popularidade da Kinesio Tape.
Isto levou muitos pesquisadores clínicos a fazerem pesquisas relativas a sua eficácia na prevenção e tratamento de lesões no tornozelo, por exemplo.
As aplicações da técnica de bandagem podem ser divididas em situações diferentes:
A escolha da melhor aplicação exige raciocínio clínico e uma avaliação minuciosa do terapeuta.
O objetivo das bandagens sensitivas é a modulação de um quadro de dor a partir da dessensibilização e alongamento do fuso muscular (“inibição” do músculo), já as bandagens linfáticas têm como objetivo reduzir edema a partir da formação de uma área de baixa pressão e as bandagens estruturais são utilizadas para obter efeito proprioceptivo corretivo e estabilizar um segmento.
(Para aprofundar o estudo do fuso muscular e de outros proprioceptores confira os E-books: Propriocepção – Parte 1, Propriocepção – Parte 2).
Tantawy et. al. (2019), em um estudo sobre a aplicação linfática em mulheres com presença de linfedema pós-mastectomia concluíram que a aplicação linfática da Kinesio Tape promoveu uma diferença estatisticamente significativa na circunferência do membro superior acometido, no questionário de ombro (Shoulder Pain and Disability Index Questionnaire-SPADI), na força de preensão manual e na qualidade de vida quando comparada ao uso das habituais “malhas” de compressão para membro superior (exemplo na imagem abaixo).
Celenay e Kaya (2017), ao analisarem os efeitos imediatos da Kinesio Tape na dor e estabilidade postural em pacientes com dor lombar crônica, concluíram que a aplicação melhora a estabilidade postural e diminui a dor nesse grupo de pacientes. A figura abaixo demonstra um exemplo do uso da KT para este fim → Utilização de bandagem sensitiva na musculatura lombar para analgesia local.
Em nossa rotina clínica, da mesma forma que o descrito no parágrafo acima, costumamos deixar algum tipo de suporte mecânico após o tratamento fisioterapêutico naqueles pacientes que apresentam quadros de dor elevada, como um coadjuvante que ajude no processo de reabilitação. Assim como no caso de dor miofascial que aparece mais adiante em um exemplo nos estudos de caso.
Zhang et. al. (2019), após uma revisão sistemática e meta análise, concluíram que a Kinesio Tape pode ser recomendada para aliviar a intensidade da dor e melhorar a amplitude de movimento em pacientes com síndrome de dor miofascial.
O critério principal em relação ao modo como se vai cortar a KT muitas vezes é o local anatômico onde ela vai ser aplicada. Não existe uma regra ou indicações universais a esse respeito.
Exemplo: Um estudo de caso que será visto mais adiante, onde o objetivo era um envio constante de informação proprioceptiva para a região da cintura escapular. A forma mais efetiva para que uma única fita fizesse esse trabalho nas 2 escápulas era ser cortada em forma de X – cada extremidade da KT está em contato com as bordas das 2 escápulas, simultaneamente.
Apesar de existirem outras formas, os cortes mais comuns são:
No vídeo abaixo, retirado do Curso de Bandagens Funcionais, podemos ver o exemplo detalhado da colocação da Kinesio Tape em casos de lesão por chicote na cervical, também conhecida no Brasil por seu nome em inglês, “Whiplash”:
As figuras e os casos a seguir foram tratados com Kinesio Tape e refletem um pouco da nossa experiência clínica sobre o uso da KT e seus benefícios:
Paciente de 40 anos, ex-atleta de jiu-jitsu, pós operatório de correção cirúrgica para hérnia inguinal, precisou passar por dois procedimentos cirúrgicos devido a ruptura de vaso sanguíneo no primeiro dia pós-cirurgia.
Após 1 semana de alta hospitalar apresentava dor aguda, muita equimose no flanco lateral e posterior do tronco inferior e quadril, fraqueza geral e dificuldades para atividades da vida diária (AVD’s). Após atendimento de fisioterapia, foi administrado o uso de bandagem elástica cortada em 5 tiras e fixada no ângulo inferior da escápula e 3-4 dedos abaixo da linha do mamilo mais lateral.
Paciente orientado sobre cuidados com a bandagem na hora da secagem pós-banho e quanto aos cuidados com a pele. Após a retirada da bandagem, paciente apresentou resolução positiva auxiliando a drenagem e ajudando a não aumentar o edema/equimose.
Triatleta, estava pedalando a mais de 60km/h quando caiu da bicicleta batendo principalmente a pelve no meio fio.
Foi avaliada e atendida pela equipe no mesmo dia do acidente. Descartado fraturas, concluímos que a atleta apresentava contusão muscular grau 3 de glúteo médio com incapacidade funcional para os movimentos de abdução e flexão do quadril direito, além de um edema ósseo no ilíaco.
Durante as primeiras 2 semanas de tratamento, após o término de cada sessão era administrada kinesio tape com objetivo clínico de auxiliar a drenagem linfática. Além de ajuda a conter o avanço do edema, também facilitou o trabalho de reabilitação.
Atleta de jiu-jitsu, com estiramento grau 2 na região dos isquiotibiais após passada de guarda, na qual o oponente pegou a prega da calça e fez uma hiperextensão de joelho com flexão de quadril. Uma das opções terapêuticas após a lesão foi manter uma bandagem elástica para drenagem, com objetivo de auxiliar a mecânica dos fluidos e drenar mais rápido a equimose local.
Paciente com queixa de dor muscular na região dos rombóides no lado direito. Ao término do primeiro atendimento, usamos uma técnica estrutural em estrela sobre o ponto doloroso, com objetivo de diminuir o esforço muscular, na qual consiste em dividir as bandagens em tiras (cortar a metade no sentido longitudinal) colocando o ponto fixo sobre a região dolorida e esticar o restante da bandagem até 75% no sentido da fita.
O término da bandagem apresenta um desenho radial parecido com um relógio. Permite ao paciente um conforto positivo, auxiliando na melhora clínica.
Exemplo de bandagem estrutural com objetivo de melhorar o alinhamento escapular. Neste tipo de aplicação temos uma informação constante no tecido fascial, a qual “informa” ao paciente que volte à postura correta toda vez que ele “desabar” e deixar as escápulas alarem.
Paciente jovem, ex-jogador de rúgbi, com sequela de entorse de punho após bolada na mão no futebol, há mais de 15 anos. Passou por procedimento cirúrgico de descompressão do canal carpiano, apresentava edema na região do punho e dedos, espessamento de tecido conjuntivo nos portais artroscópicos, dor, fraqueza muscular e perda da função motora da mão.
No primeiro atendimento, liberamos o paciente com bandagem elástica cortada em 5 tiras, fixada no epicôndilo lateral do braço e outra bandagem fixada no epicôndilo medial, com objetivo clínico de auxiliar a drenagem. No retorno do atendimento, apresentou regressão do edema.
É importante ressaltar que a aplicação das bandagens é uma terapia auxiliar, não substitui, portanto, outros procedimentos terapêuticos. Ao contrário ela é uma ferramenta que pode ser usada em conjunto com outras técnicas que o profissional julgue adequadas naquele momento, para aquele paciente em particular.
Portanto, para nós, a aplicação da Kinesio Tape quando usada com critério e objetivo clínico é uma excelente ferramenta que auxiliará na recuperação e reabilitação de quem precisar.
Abib, R. T. Curso de Bandagens Funcionais. www.insitutofortius.com.br, 2021.
Bicici, S., Karatas, N., Baltaci, G. Effect of athletic taping and kinesiotaping® on measurements of functional performance in basketball players with chronic inversion ankle sprains. Int J Sports Phys Ther, 2012.
Celenay, S. T., Kaya, D. O. Immediate effects of kinesio taping on pain and postural stability in patients with chronic low back pain. Journal of Bodywork & Movement Therapies, 2017.
Tantawy, S. A., Abdelbasset, W. K., Nambi, G., Kamel, D. M. Comparative Study Between the Effects of Kinesio Taping and Pressure Garment on Secondary Upper Extremity Lymphedema and Quality of Life Following Mastectomy: A Randomized Controlled Trial. Integr Cancer Ther, 2019.
Wang, Y., Gu, Y., Chen, J., Luo, W., He, W., Han, Z., Tian, J. Kinesio taping is superior to Other taping methods in ankle functional performance improvement: a systematic review and meta-analysis. Clinical Rehabilitation, 2018.
Zhang, X. F., Liu, L., Wang, B. B., Liu, X., Li, P. Evidence for kinesio taping in management of myofascial pain syndrome: a systematic review and meta-analysis. Clinical Rehabilitation, 2019.