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Guia para Dor Patelofemoral – Parte 6

Por Marcus Lima em 26 de dezembro de 2018

No “Guia para Dor Patelofemoral – Parte 6” o autor se concentra em descrever a influência que a dor tem no comportamento dos indivíduos e de quais maneiras podemos lidar com a questão.

As palavras femoropatelar (FP) e patelofemoral (PF) são usadas de maneira intercambiável no texto, assim como as palavras stress e estresse.

Aos que ainda não leram as partes anteriores acessem:

 

Guia para a Dor Femoropatelar: Parte 6 – Dor 

Dan Pope

Adaptação: Prof Marcus Lima

 

A Síndrome de Dor Femoropatelar (SDFP) é a forma de dor no joelho mais comum tratada na fisioterapia. Escrevi esta série para ajudar as pessoas a entenderem melhor essa condição, porque ocorre e como consertar.

Caso tenha perdido:

Hoje iremos discutir o que acontece após desenvolver a Síndrome de Dor Femoropatelar e lançar a fundação de como iniciar o processo de diminuir a dor no joelho.

 

O que acontece após estarmos com dor?

No último artigo expliquei como a sobrecarga na articulação patelofemoral pode levar à dor. Basicamente, excedemos a capacidade da articulação de tolerar stress e a dor inicia. Eu fiz alguns gráficos para ajudar a entender isso. Basicamente, antes da dor podemos fazer todos os tipos de movimento sem problemas.

Temos a capacidade de lidar com toda sorte de exercícios. Digamos que participemos de uma corrida com obstáculos com nossos camaradas e os joelhos começam a doer (N.T: No original ele se refere à uma corrida de obstáculos chamada “Spartan Race”, com edições no Brasil também). O que fizemos foi basicamente exceder a atual capacidade dos nossos joelhos de suportar stress e agora estamos com dor.

Agora o que acontece é que não poderemos fazer o que fazíamos antes de experenciar dor. Talvez consigamos caminhar e subir/descer escadas sem dor, mas basicamente qualquer tipo de treino de membros inferiores causará dor.

Nesse exemplo, podemos ver que não podemos nem ao menos fazer agachamentos com sobrecarga sem experenciar dor. Nossa capacidade diminuiu e com isso, nossa capacidade de desempenhar as atividades que gostamos.

Faz sentido, nosso corpo produzir dor a fim de nos proteger após uma lesão (e prevenir erros futuros). Na minha concepção a dor é basicamente nosso corpo dizendo: – Tenha cuidado para não fazer algo estúpido! Após uma lesão, a dor está lá para nos manter a salvo e nos ajudar a regular a quantidade de atividade que desempenhamos para que o corpo possa se recuperar.

Olhando dessa forma a dor meio que soa como uma coisa boa, certo? Bem, sim. Ela é importante não apenas de uma perspectiva de nos manter a salvo, mas também pode ser um bom sinal durante a reabilitação. Deixe-me explicar em mais detalhes.

O que é importante entender é que o que faz com que o corpo se cure é a mesma coisa que causou a lesão. Seria o stress na forma de exercício.

Após uma lesão, precisamos encontrar a dose correta de stress a fim de promover uma adaptação positiva e melhorar a capacidade do joelho. Stress na forma de exercício ajuda a curar a articulação patelofemoral, mas precisamos da dose correta.

Se você tem dor de cabeça e toma 2 aspirinas a dor de cabeça provavelmente vai embora. Tomou a dose correta. Se você tem dor de cabeça e toma a cartela inteira, terá problemas. Dose errada. A aspirina não foi a escolha errada, a dose foi.

O mesmo vale para a reabilitação da articulação patelofemoral. Precisamos encontrar a dose correta de exercício para curá-la. Já falamos a respeito de como a síndrome de dor femoropatelar (SDFP) tende a não melhorar com o tempo, sem intervenção (24) e como notamos anteriormente, muito stress obviamente também não é bom.

O que é importante entender é que estresse demasiado pode fazer com que a situação fique pior. No entanto, estresse insuficiente pode ser igualmente mau.

Confira os gráficos abaixo para ter uma melhor visualização. O “nível de disparo” representa o limiar de dor do atleta. Todas as atividades abaixo do limiar não produzem qualquer dor.

Na primeira representação gráfica temos um atleta que evita qualquer coisa que causa dor no joelho. Isso representa “sem stress suficiente” para promover uma adaptação positiva. Nosso atleta não está aplicando o stress necessário para que a articulação patelofemoral faça algum progresso em relação à dor.

O segundo gráfico representa um atleta que tende a ultrapassar os níveis de dor. Com o tempo, assim como o atleta que faz muito pouco, a dose de exercício está inadequada e a dor persiste (e pode piorar). Novamente, a dose está errada.

No terceiro gráfico se pode ver que o atleta trabalha no seu limiar de dor. Com o tempo o limiar de dor gradualmente melhora. Na medida em que o limiar aumenta, nosso atleta trabalha em intensidades ligeiramente maiores para refletir a melhora. Com o tempo isso continua e nosso atleta gradualmente reconstrói sua capacidade, podendo fazer cada vez mais com níveis diminuídos de dor.

Um fator chave nesta equação é que nosso atleta estava trabalhando com alguma dor o tempo inteiro. Existem muitas pesquisas por aí mostrando que trabalhar com alguma dor durante os exercícios de reabilitação não traz maiores problemas e os pacientes tendem, com o tempo, a ficarem bem.

Trabalhar com alguma dor durante os exercícios, pode, na realidade, resultar em melhoras de curto prazo mais rápidas na dor, em comparação com desempenhar exercícios de reabilitação sem qualquer tipo de dor. Talvez seja devido à aplicação da dosagem apropriada de stress na articulação patelofemoral.

(N.T: Referência ao artigo da British Journal of Sports Medicine: Smith et. al. Should exercises be painful in the management of chronic musculoskeletal pain? A systematic review and meta-analysis, 2017).

Determinar com o quanto de dor se vai trabalhar é uma área cinza, e é desafiador para terapeutas e pacientes determinarem o quanto de dor é aceitável durante exercícios na reabilitação. Antes de tentar qualquer programa terapêutico, deveria haver uma conversa entre paciente e terapeuta/doutor/professor para determinar a dose apropriada de exercício (Escrevi um artigo tentando aprofundar a questão).

Meus princípios básicos durante o exercício na reabilitação são:

  • A dor deve ser mínima, até 3/10 (3 em uma escala de dor que vai de 0 – 10).
  • Os níveis de dor devem voltar ao parâmetro inicial após o exercício e no dia seguinte.
  • A dor e a função devem melhorar em uma base semanal e mensal.

Se esses pré-requisitos não são atendidos, devemos modificar alguma coisa, a dosagem está incorreta. Se atendermos esses requerimentos, então estaremos no caminho certo. Honestamente, é um processo experimental em que vamos aprendendo cada vez mais com a passagem do tempo.

Tenha em mente que aplicar exercícios corretamente na reabilitação é como acertar um alvo móvel. A dificuldade dos exercícios muda ao longo do tempo em resposta a como o corpo reage.

 

Recapitulando:

  • A capacidade da articulação patelofemoral para lidar com o stress diminui após uma lesão.
  • Atividades normais que costumavam ser indolores agora produzem dor.
  • Dor é um processo normal projetado para auxiliar a proteger o corpo e nos manter seguros no futuro.
  • Restaurar a capacidade do joelho e eliminar a dor gira em torno da dosagem apropriada de exercício.
  • Stress na forma de exercício ajuda a reduzir a dor.
  • Trabalhar com pequenos níveis de dor pode ser benéfico no auxílio da reabilitação plena.
  • O quanto de dor se deve experenciar durante e após o exercício irá ajudar a guiar a intensidade ao longo do tempo.

Agora que repassamos o que ocorre no joelho quando temos dor, finalmente é tempo de discutir de que forma vamos nos livrar dela. Na última parte trataremos do plano para a reabilitação da Síndrome de Dor Femoropatelar.

 

Confira a próxima parte em: Guia para a Dor Patelofemoral – Parte 7 – Como se Livrar da Dor

 

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  1. Current Concepts and Treatment of Patellofemoral Compressive Issues IJSPT 2016 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27904792
  2. Current Concepts in Biomechanical Interventions for Patellofemoral Pain IJSPT 2016 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27904791
  3. Examination of the Patellofemoral Joint IJSPT 2016 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5095938/
  4. Biomechanics and pathomechanics of the Patellofemoral Joint IJSPT 2016 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5095937/
  5. Salsich GB, Perman WH. Patellofemoral joint contact area is influenced by tibiofemoral rotation alignment in individuals who have patellofemoral pain. J Orthop Sports Phys Ther. 2007;37(9):521-528.
  6. Tibiofemoral and Patellofemoral Mechanics are Altered at Small Knee Flexion Angles in People with Patellofemoral Pain https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3425715/
  7. Kay M Crossley, Marienke van Middelkoop, Michael J Callaghan, Natalie J Collins, Michael Skovdal Rathleff, Christian J Barton, 2016 Patellofemoral pain consensus statement from the 4th International Patellofemoral Pain Research Retreat, Manchester. Part 2: recommended physical interventions (exercise, taping, bracing, foot orthoses and combined interventions) BJSM http://bjsm.bmj.com/content/early/2016/05/31/bjsports-2016-096268
  8. Christian John Barton, Simon Lack, Steph Hemmings, Saad Tufail, Dylan Morrissey, The ‘Best Practice Guide to Conservative Management of Patellofemoral Pain’: incorporating level 1 evidence with expert clinical reasoning BJSM 2015http://bjsm.bmj.com/content/49/14/923#T
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  10. Factors associated with patellofemoral pain syndrome: a systematic review. BJSM 2013 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22815424
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  12. Hartmann, H., Wirth, K., & Klusemann, M. (2013). Analysis of the Load on the Knee Joint and Vertebral Column with Changes in Squatting Depth and Weight Load. Sports Med.
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  28. Stress and Your Body: The Great Courses by Robert Sapolsky
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  33. Managing Chronic Pain – John Otis: Treatments that Work
  34. A prospective study predicting the outcome of chronic low back pain and physical therapy: the role of fear-avoidance beliefs and extraspinal painhttps://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26995499
  35. Nonspecific Low Back Pain and Return to Work https://www.aafp.org/afp/2007/1115/p1497.html#sec-7
  36. Therapeutic Neuroscience Education – Adriaan Louw
Instituto Fortius