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Guia para Dor Patelofemoral – Parte 4

Por Marcus Lima em 23 de outubro de 2018

No Guia para a Dor Femoropatelar-Parte 4 desta série de artigos sobre a Síndrome de Dor Femoropatelar (SDFP), escrita por Dan Pope (Fitnesspainfree.com), o foco é na capacidade da articulação femoropatelar de tolerar carga.

As palavras femoropatelar (FP) e patelofemoral (PF) são usadas de maneira intercambiável no texto, assim como as palavras stress e estresse.

Aos que ainda não leram as partes anteriores acessem:

 

Guia para a Dor Femoropatelar: Parte 4 – Capacidade

Dan Pope

Adaptação: Prof Marcus Lima

 

A Síndrome de Dor Femoropatelar (SDFP) é a forma de dor no joelho mais comum tratada na fisioterapia. Escrevi esta série para ajudar as pessoas a entenderem melhor esta condição, porque ocorre e como consertar.

Caso tenha perdido:

Neste artigo iremos discutir como a Síndrome de Dor Patelofemoral (SDPF) ocorre e os fatores que influenciam começar a sentir dor (e eventualmente se livrar dela). SDPF é amplamente descrita como um problema de sobrecarga (4, 11). Se temos muito stress dentro da articulação patelofemoral podemos criar alguma irritação no tecido e como resultado acabarmos sentindo dor.

O ponto chave aqui é o problema do stress “em demasia”. Lembre-se, o joelho é projetado para lidar com o estresse e que, em geral, movimento e exercício são bons.

Como descrito, certas atividades colocam mais estresse na articulação femoropatelar do que outras. Atividades como correr e agachar profundamente colocam forças maiores na articulação. Em virtude disso, SDPF é uma lesão comum em corredores e levantadores de peso.

Lembre-se também como uma determinada biomecânica do quadril, joelho, tornozelo e pé também desempenha um papel na dor no joelho. Se a biomecânica não está adequada, acabamos com uma área de superfície diminuída na articulação patelofemoral, assim como um maior stress na parte lateral do joelho.

Assegure-se de revisar a parte 2 desta série sobre esses conceitos. O terceiro aspecto que é importante de ser entendido é a “capacidade” da articulação do joelho.

Scott Dye, um famoso pesquisador de joelho, foi o primeiro que discutiu o tópico de “homeostase do tecido” e a capacidade da articulação femoropatelar. A Wikipedia define homeostase como:

Homeostase pode ser definida como a condição estável de um organismo e de seu ambiente interno; ou como a manutenção ou regulação da condição estável, ou seu equilíbrio; ou simplesmente como o equilíbrio das funções corporais.

Basicamente a articulação patelofemoral está tentando manter a homeostase, assim como qualquer outra parte do corpo. Scott acredita que um único evento ou um período de carga prolongada na articulação pode alterar a homeostase articular e produzir dor no joelho (11). Parece que sobrecarga no joelho se encaixa nessa situação.

O que é interessante a respeito da articulação patelofemoral (PF) é que o evento inicial pode ser prolongado indefinidamente se não houver intervenção (11). Em outras palavras, a dor tende a permanecer indefinidamente a não ser que se faça algo a respeito (tenha em mente que descansar tende a não resolver o problema) (13).

Scott descreveu a capacidade do joelho de suportar stress (a capacidade da articulação patelofemoral – PF) como o “envelope da função” da articulação (11).

Basicamente, o joelho pode suportar uma determinada quantidade de estresse antes de sofrer uma lesão e/ou se tornar sintomático. Se excedermos essa capacidade terminaremos com dor no joelho.

Vamos dar uma olhada nos 2 exemplos abaixo. Um é um levantador de peso olímpico iniciante que se interessou pela modalidade e quer iniciar um programa de levantamento de pesos. Na imagem abaixo, a área em cinza representa o quanto o joelho do indivíduo é capaz de suportar antes que ocorra uma lesão. A área em branco representa o que o joelho ainda não é capaz de lidar e que pode resultar em uma lesão:

N.T: PF – Patelofemoral.

Como se pode ver, esse indivíduo pode subir/descer escadas, agachar e correr sem qualquer dor. Todas essas atividades estão dentro do seu envelope de função. No entanto, ainda não está pronto para iniciar um programa de levantamento de pesos de nível iniciante. Simplesmente isso está acima de sua capacidade atual (ou de seu “envelope da função”). Coloque-o em um programa de treinamento com pesos de elite e os joelhos irão sofrer.

O que é interessante a respeito da articulação patelofemoral (PF) é que, ao que parece, podemos aumentar sua capacidade com o treinamento ao longo do tempo. Quanto maior a capacidade da articulação, maior a tolerância antes de experenciar algum tipo de dor.

Provavelmente é por isso que se pode ter atletas que desempenham um grande volume de corridas ou agachamentos profundos com carga ao longo das semanas de treinamento sem sentir qualquer tipo de dor. Eles construíram essa capacidade ao longo do tempo. Se for administrada a mesma carga de treinamento a um qualquer, a probabilidade de lesão é grande.

O indivíduo descrito no gráfico acima irá requerer um período de treinamento para aumentar sua capacidade antes de iniciar um programa de fato.

Imaginemos que pegamos o mesmo indivíduo e o treinamos ao longo de 10 anos. Agora ele é um levantador de peso de elite. Seu envelope de função melhorou.

Nosso levantador de pesos construiu a capacidade do joelho ao longo dos anos e agora é capaz de lidar com muito mais volume, intensidade e frequência de treinamento em comparação a quando iniciou. Embora o stress na articulação patelofemoral (PF) seja muito maior no treinamento de levantamento de pesos de elite, sua capacidade cresceu a fim de ser capaz de lidar com esse estresse. Portanto, ele continua a treinar dentro de seu envelope de função e manter a homeostase na articulação.

Agora, o que acontece com 2 corredores de elite que participam da mesma prova e somente 1 se machuca? Bem, isso pode ser simplificado com as imagens abaixo.

Vejamos o corredor “A”:

N.T: 1 milha = 1609 metros aproximadamente.

Ele possui capacidade suficiente para suportar a distância da maratona sem se lesionar.

Em contraste, este é o atleta “B”:

Nesse exemplo, nosso corredor pode lidar com a maior parte das distâncias abaixo da maratona. Teoricamente, uma vez que decidir tentar uma maratona pode acabar sentindo dor.

Esse seria um paciente que chegaria com uma dor no joelho após uma maratona que não sentia antes da corrida (Vamos teorizar que ele não treinou em distâncias superiores a 32 km antes da maratona). A corrida excedeu sua capacidade e resultou em dor no joelho.

 

Recapitulando:

  • Síndrome de Dor Femoropatelar (SDFP) é uma condição de sobrecarga (N.T: Overuse).
  • Um episódio inicial de sobrecarga pode romper a “homeostase” da articulação patelofemoral e levar a uma condição indefinida de dor, a menos que haja uma intervenção.
  • Capacidade da articulação patelofemoral (PF) é a quantidade de stress que o joelho pode suportar antes que ocorra uma lesão.
  • Capacidade da articulação patelofemoral pode aumentar (ou diminuir) dependendo do estresse colocado na articulação devido ao treino ou atividade regular.
  • Capacidade da articulação patelofemoral ajuda a explicar porque certos atletas acabam lesionados e outros não.

Como você pode ter adivinhado, a capacidade da articulação patelofemoral pode ser influenciada por uma série de fatores. No próximo artigo iremos examinar estes fatores e como podemos ajudar a construir joelhos que suportem diversas atividades.

 

Confira a próxima parte em: Guia para a Dor Patelofemoral – Parte 5: Fatores que afetam a Capacidade.

 

Curso de Avaliação e Reprogramação do Movimento
Curso de Anatomia Palpatória e liberação miofascial
  1. Current Concepts and Treatment of Patellofemoral Compressive Issues IJSPT 2016 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27904792
  2. Current Concepts in Biomechanical Interventions for Patellofemoral Pain IJSPT 2016 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27904791
  3. Examination of the Patellofemoral Joint IJSPT 2016 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5095938/
  4. Biomechanics and pathomechanics of the Patellofemoral Joint IJSPT 2016 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5095937/
  5. Salsich GB, Perman WH. Patellofemoral joint contact area is influenced by tibiofemoral rotation alignment in individuals who have patellofemoral pain. J Orthop Sports Phys Ther. 2007;37(9):521-528.
  6. Tibiofemoral and Patellofemoral Mechanics are Altered at Small Knee Flexion Angles in People with Patellofemoral Pain https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3425715/
  7. Kay M Crossley, Marienke van Middelkoop, Michael J Callaghan, Natalie J Collins, Michael Skovdal Rathleff, Christian J Barton, 2016 Patellofemoral pain consensus statement from the 4th International Patellofemoral Pain Research Retreat, Manchester. Part 2: recommended physical interventions (exercise, taping, bracing, foot orthoses and combined interventions) BJSM
    http://bjsm.bmj.com/content/early/2016/05/31/bjsports-2016-096268
  8. Christian John Barton, Simon Lack, Steph Hemmings, Saad Tufail, Dylan Morrissey, The ‘Best Practice Guide to Conservative Management of Patellofemoral Pain’: incorporating level 1 evidence with expert clinical reasoning BJSM 2015http://bjsm.bmj.com/content/49/14/923#T
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  12. Hartmann, H., Wirth, K., & Klusemann, M. (2013). Analysis of the Load on the Knee Joint and Vertebral Column with Changes in Squatting Depth and Weight Load. Sports Med.
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  36. Therapeutic Neuroscience Education – Adriaan Louw
Instituto Fortius