Artigo que fala sobre a extensão do hálux e mecanismo de molinete, um antigo conceito da biomecânica que, ao que parece, se perdeu um pouco.
Mês passado tivemos o foco no pé e complexo do tornozelo e já é hora de resgatarmos um velho conceito biomecânico: O Mecanismo de Molinete.
Temo que alguns conceitos chave tenham se perdido em nossos ensinamentos na medida em que nos movemos rumo à novas tendências.
Portanto, assim como gostei muito de escrever sobre o Sinal de Cloward e a pesquisa de 1959, vamos dar outro mergulho no passado.
O tempo agora é 1954, quando J.H. Hicks escreveu a respeito da aponeurose plantar e propôs um modelo biomecânico explicando quão diversa era a função de carga e descarga das articulações do pé.
Hicks (1954) discutiu 4 observações fundamentais sobre o que deveria normalmente ocorrer no pé durante a descarga do peso corporal quando a primeira articulação metatarsofalângica (MTF) entra em extensão:
Penso que muitos clínicos concordariam que essas observações são ligadas à extensão do hálux, mas o que ele veio a entender através de mais investigação, em sujeitos vivos e cadáveres, é que essas observações (N.T: Listadas de 1 a 4 acima) ocorrem em ambas situações (N.T: Sujeitos vivos e cadáveres), concluindo, portanto, que o mecanismo não era primariamente devido à atividade muscular (Hicks., 1954, p.26).
Rigidez na panturrilha, tendão calcâneo e na dorsiflexão do tornozelo são fatores de risco para a sobrecarga da fáscia plantar.
Cheng et al (2008) estavam interessados em um entendimento da relação entre ângulos de dorsiflexão, força do tendão calcâneo, o impacto na fáscia plantar e o mecanismo de molinete para ajudar a direcionar estratégias de tratamento que reduzissem o estiramento da fáscia plantar na fascite.
Com seu estudo eles descobriram que 2/3 do estiramento da fáscia plantar é atribuido à extensão do hálux e o terço restante à força do tendão calcâneo.
Eles confirmaram que sob carga a região de stress máximo da fáscia plantar é próxima ao tubérculo calcâneo medial (2208, p. 1942), o que se correlaciona com a apresentação clínica comum de dor medial no calcâneo durante a descarga de peso.
Os resultados mostraram que maiores cargas na fáscia plantar ocorrem sob o primeiro dedo e se reduzem quando se movem para o 5° dedo, o que pode oferecer uma explicação de porque as pessoas descarregam o peso corporal na borda lateral do pé quando têm fascite plantar ou dor no dedo.
Mas se a marcha ocorre sem extensão do hálux, não é aplicada pressão suficiente na aponeurose plantar para efetivamente levantar o arco medial longitudinal, o que pode colocar o pé em uma posição biomecanicamente desvantajosa, com um mecanismo de molinete ineficiente.
Portanto, retreinar a flexão plantar com pressão através do hálux é importante para a biomecânica normal.
O mecanismo do molinete, mais conhecido como o movimento do arco medial longitudinal é essencial para absorção de impacto e dissipação de forças através do pé. Isso explica como o pé pode agir como uma alavanca rígida e um absorvedor de impacto adaptável durante a fase de apoio da marcha.
O objetivo desse artigo foi relembrar alguns antigos conceitos anatômicos e biomecânicos para lembrá-lo o quão legal o pé realmente é e quão multifuncionais as articulações, ligamentos e estruturas ativas do pé são, agindo juntas para permitir uma marcha sincronizada e sem esforço.
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Artigo original: Anatomy 101 – The Windlass mechanism & great toe extension.