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Alongamentos Não Funcionam – Parte 1

Por Marcus Lima em 18 de outubro de 2014

Artigo sobre outro dos (muitos) tópicos controversos dentro da área do treinamento e da reabilitação, o tema central é o de que o sistema nervoso comanda o alongamento.

Dividi em 2 partes para facilitar a leitura dos amigos.

 

Alongamentos Não Funcionam (Da maneira que você Pensa)…

Brooke Thomas

 

Alongamentos nos fazem ser mais flexíveis? Sei que a resposta óbvia, baseada em tudo que sempre nos foi dito com relação aos méritos do alongamento, é um: “Sim, Claro!”. Mas acontece que pode não ser o caso. Mas pode ser o caso. Ao menos um pouquinho. Mas não totalmente.
Certo, deixe-me explicar.

 

Alongar seus Membros ou Alongar sua Mente?

Me deparei com algumas coisas recentemente, que me fizeram repensar aquela crença comum em relação ao alongamento, algo como: alongue os pedaços rígidos de seu corpo e eles ficarão mais flexíveis.

As coisas que me fizeram repensar são:

  1. Uma entrevista que fiz em um podcast com Jules Mitchell, que está escrevendo um livro (e acabou de finalizar uma tese) na ciência do alongamento.
  2. Um guia que estou montando sobre como resolver o problema de rigidez nos isquiotibiais, que fez com que eu mergulhasse em pesquisas a respeito de como fazer com que estes músculos retornem a um comprimento mais funcional.
  3. Por último, mas não menos importante, estou lendo o novo livro de Katy Bowman: Move your DNA. Onde suas percepções a respeito dos sarcômeros (N.T: A menor unidade contrátil que possuímos) captaram minha atenção.

Agora, farei o meu melhor e tentarei resumir os tópicos que surgiram a partir dessas 3 coisas.

 

Seu Sistema Nervoso Comanda o Espetáculo

Na sua entrevista comigo, Jules Mitchell falou a respeito de como ela começou sua tese, com a intenção de mostrar a Ioga Asana sob um ponto de vista biomecânico, que é exatamente o que ela faz. No entanto, em virtude de ela ter começado seu trabalho sob a perspectiva de uma professora de ioga (com todos os ensinamentos que ela teve a respeito de como o alongamento leva a uma flexibilidade aumentada), ela ficou surpresa em descobrir que as pesquisas em relação ao alongamento não suportam essa ideia.

Ela descobriu que a noção de que se alongarmos mais e com mais afinco os tecidos irão se modificar, não era verdadeira. Na realidade, não somos pedaços de argila que podem ser moldados através de puxar partes com persistência. Isto porque nosso sistema nervoso central comanda o show.

O que isto significa? Significa que a menos que você esteja sob o efeito de uma anestesia geral (onde miraculosamente irá ganhar mobilidade total e até uma amplitude de movimento excessiva), sua habilidade de alongar em qualquer amplitude é determinada pela tolerância do seu sistema nervoso àquela amplitude.

(N.T: No vídeo acima eles fazem uma mobilização em um indivíduo com capsulite adesiva, ou ombro congelado que se caracteriza por uma severa restrição na amplitude de movimento)

Quando se tem isquiotibiais super rígidos e se tenta inclinar a frente e se encontra uma resistência rígida, isso não significa que é necessário puxar os isquiotibiais com se eles fossem algo inanimado. 

O sistema nervoso central é o que dá aquela amplitude final firme, e é basicamente como se dissesse:

“Não, Desculpe companheiro. Não me sinto seguro naquela amplitude, então não estou te deixando chegar lá”

Ficar insistindo nisso e tentar forçar os isquiotibiais em amplitudes maiores, terá um de três resultados:

  1. Nada irá acontecer.
  2. Os isquiotibiais ficarão mais curtos.
  3. Irá ocorrer lesão ao tecido (o que leva mais ou menos 2 anos para curar totalmente, se estivermos falando de lesão no tendão).
Eu recomendo não tentar forçar, tentando sobrepujar o sistema nervoso em problemas de flexibilidade. Ele irá ganhar e não será agradável.

 

O Freio de Emergência do Corpo

Por que o sistema nervoso não se sente seguro e portanto limita sua mobilidade? Porque aquela amplitude não é familiar, ou porque padrões compensatórios no seu corpo determinaram que certas partes do corpo precisam funcionar como um freio de emergência a fim de segurar as coisas juntas.

Isso se resume a questões de controle motor (mais sobre o assunto aqui: Motor Control Theory and Their Applications) e da Lei de Davis, que pode ser -super- simplificada como: “Use ou Perca” (N.T: a Lei de Davis, seria a Lei de Wolff aplicada à tecidos moles. A Lei de Wolff, de maneira resumida diz que um osso responde aos esforços mecânicos modificando sua estrutura interna, como forma de adaptação às forças aplicadas).

Enquanto trabalhava no meu guia para liberação de isquiotibiais encurtados, eu sempre voltava à questão de como esses músculos funcionam em algumas pessoas com encurtamentos crônicos, como um freio de emergência. Este tipo de padrão compensatório surgem por uma série de razões, as mais comuns podem ser uma musculatura profunda do core sub-ativa, musculatura do core muito rígida (sim, sub-ativa e muito rígida podem aparecer juntas), adutores fracos, e muito mais. Se estas ou outras estruturas chave de estabilização não podem fazer o seu trabalho de forma satisfatória, os isquiotibiais serão recrutados. Eles irão assumir devido a falta de apoio de outros lugares.

Voltando à analogia do freio de emergência (N.T: Aqui no Brasil o termo seria freio de mão nesse caso): – Se seu carro está estacionado na beira de um penhasco e está seguro apenas pelo freio de mão, você o liberaria?

Não se você é alguém são. Esta é a mesma decisão que seu sistema nervoso tem que tomar quando você tenta se dobrar a frente e é parado prematuramente.

 

Confira a segunda parte: Alongamentos não funcionam – parte 2.

 


Artigo original: Stretching Doesn’t Work (the Way you Think it Does).

9 Comentários

  • A estabilização falsa, como diz Gray Cook, você perde mobilidade porque falta estabilidade em outro lugar.

    • Avatar Marcus Lima disse:

      Exatamente Dona Renata de Barros, ou ocorre tônus de proteção, ou aproximação óssea na tentativa de criar estabilidade. De fato o que ando me perguntando é (baseado no que ando estudando e tentando aplicar): Não deveria a estabilidade preceder a mobilidade? Controle preceder movimento irrestrito? Quem vem primeiro, o ovo ou a galinha?

  • Avatar Paulo disse:

    Passo muitas horas sentado trabalhando em frente ao computador e a cerca de 6 meses quando me levantei derrepente da cadeira senti um forte “puxão” nos isquiotibiais e fiquei zonzo (por que será?) e custei para me manter de pé. De lá para cá esses musculos estão super tensos e doloridos, e, as vezes atrapalha até para permanecer em pé… Será que a tontura que sinto tema ver com esses musculos? Como posso resolver esse problema de isquiotibiais tensos e doloridos? abs!

    • Avatar Marcus Lima disse:

      Paulo, tu ainda sente tontura? Aparentemente a tontura do momento parece ter a ver com tu teres levantado subitamente. Não sei dizer se há relação, além do fato de teres levantado rápido. Quanto aos isquiotibiais, (vou chutar aqui) mas ao que parece eles desenvolveram rigidez adaptativa por permanecerem longos períodos na posição encurtada (com joelhos em flexão), justamente um dos pontos do artigo (na parte 2) e algo bem conhecido. O que tu relataste parece com sintomas de um estiramento, sendo ou não, o melhor a fazeres é (depois que o tecido tiver cicatrizado, no caso de ter sido realmente um estiramento) procurar alguém que possa avaliar quais relações musculares podem estar desequilibradas. Ainda, o fato óbvio de tu tirares umas pausas no trabalho e te movimentar, isso será fundamental (leia a parte 2 do artigo que acabei de publicar).
      Espero que tenha ajudado.
      Abraço.

  • Avatar nathalia disse:

    Quando no texto diz:
    “Algumas pessoas com encurtamento crônicos, de que maneira esses músculos funcionam”.
    Pergunto, funcionam como? Maneira negativa? No caso compensatório?
    Você quis dizer funcionam, sem qualidade de movimento? Ex: se temos que utilizar de um movimento, o cérebro não tá nem aí, executamos ali o movimento sem qualidade, e o importante é se mover. É isso, quem você quis dizer que funcionam?

    • Avatar Marcus Lima disse:

      Funcionam como freio de emergência, que é como a autora se refere aos músculos que aumentam o seu estado de rigidez em resposta a uma falta de estabilidade em outra parte do sistema. Ela quis dizer que eles estão trabalhando (ou funcionando) de maneira a compensar, tomar para si o trabalho que deveria ser de outros músculos.
      Ficou mais claro agora ou ainda está meio confuso?

  • […] Aos que não leram a primeira parte: Alongamentos Não Funcionam – Parte 1. […]

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