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Alongamentos Não Funcionam – Parte 2

Por Marcus Lima em 21 de outubro de 2014

Continuando com o artigo sobre alongamentos, o mais importante a ser tirado de lição é se ter a percepção de que muitas vezes, o aparente “encurtamento” é uma medida de proteção, uma tentativa do sistema nervoso central de criar estabilidade porque há falha em outra parte. Os músculos que deveriam fornecer estabilidade estão inibidos/sub-ativos/com atraso de ativação, chame como quiser. Nesse caso, o provável mecanismo de compensação pode ser aumentar a rigidez de outros músculos, tornando-os menos móveis. Forçar um alongamento nesse caso, não vai adiantar.

Aos que não leram a primeira parte: Alongamentos Não Funcionam – Parte 1.

 

Alongamentos Não Funcionam (Da maneira que você Pensa)…Parte 2

Brooke Thomas

 

Estes Sarcômeros Impertinentes

Em relação a parte do use-ou-perca na equação de flexibilidade, vamos falar a respeito dos sarcômeros, baseados no livro citado, de Katy Bowman. Ela é uma campeã em fazer as pessoas entenderem as diferenças entre frequência e intensidade.

Resumindo, aquilo que fazemos com nossos corpos na maior parte do tempo, supera o que fazemos nos nossos treinamentos (ou mais especificamente nesse nosso caso, os alongamentos) em uma pequena parcela do nosso dia. Em relação a flexibilidade, isto significa que se nos sentamos o dia inteiro numa cadeira, com o passar do tempo desenvolveremos isquiotibiais encurtados (N.T: Encurtamento adaptativo é como chamam isso, creio eu).

Aqui um exemplo do papel dos sarcômeros: São a unidade contrátil básica de nossos músculos. Os músculos se movem porque os sarcômeros geram força e movimento. Quando se está frequentemente na mesma posição, como no nosso exemplo da cadeira, os sarcômeros mudam em nível celular, a fim de tornar mais fácil de se fazer aquilo que se está fazendo no momento (o ficar sentado na cadeira com os joelhos flexionados). Estes sarcômeros irão na realidade se moldar, para que o novo normal seja aquela posição com os joelhos flexionados, sentado na cadeira.

 

Isto dito, a maneira como deveríamos abordar isto seria nos movermos mais frequentemente, de maneira a colocar os isquiotibiais em um comprimento normal. Por exemplo: aos que usam uma mesa de escritório o dia inteiro, procure sentar no solo com as pernas estendidas (tentar fazer isso sem arredondar as costas, outro sinal de isquiotibiais curtos), calçar sapatos sem salto, caminhar e tirar pausas para nos movimentarmos, entre outras coisas.

O caminho para a reabilitação não passa por alongar os isquiotibiais até a amplitude máxima de 30 a 90 segundos por dia.

Colocando o trabalho de Mitchell e Bowman juntos, este tipo de reabilitação realiza algumas coisas fundamentais:

1º – Lembrar dos sarcômeros, alcançar o comprimento que você gostaria, através de incrementos graduais da carga imposta, em amplitudes saudáveis de movimento.
2º – Proporcionar mais oportunidades de movimentos naturais (simplificando: movimento natural = movimentos que nossos ancestrais usavam para poder sobreviver, como: caminhar, dobrar o tronco, escalar, sempre com alinhamento apropriado), que irão desenvolver força e adaptabilidade.

Isto permite ao sistema nervoso sentir-se seguro em relação a experimentar novas amplitudes de movimento, enquanto que simultaneamente revela padrões de movimento compensatórios que fizeram com que o sistema nervoso colocasse os freios nessa amplitude.

 

Um Conto de Dois Pés

Com o que isso se parece na prática? Deixe-me contar a respeito de meus pés. Verão passado, eu tinha que por meus calçados de trilha rígidos, a fim de desbravar as trilhas rochosas aqui da Nova Inglaterra. Sempre que eu tentava vestir um calçado com uma sola mais flexível, meus pés doíam. Determinada a que meus pés se tornassem mais flexíveis, passei o ano inteiro vestindo somente calçados de solado baixo, flexíveis, andando descalça o máximo possível, aumentando a minha quilometragem de caminhadas e intencionalmente buscando a maior diversidade de  terreno que pudesse encontrar.

Avançando o tempo até o final deste verão, eu tenho feito trilhas diariamente, em inclinações, superfícies lisas, solo rochoso, etc. sempre nas minhas sandálias de trilha (N.T: O calçado a que ela se refere é este: Unshoes. Imagem acima). E o que me deixa maravilhada é que estas trilhas fazem com que eu sinta como se fosse uma massagem nos pés, não importando quão longa é a trilha. Me encontro intencionalmente subindo em áreas rochosas da trilha porque sinto que isso é bom para meus pés. Mas o que aconteceu a meus pés?

Eu incrementei gradualmente – através de 1 ano – a carga sobre meus pés, de diversas maneiras diferentes, como resultado, suas 33 articulações agora são mais flexíveis. Meus pés também estão mais fortes. Flexíveis e fortes aparecem juntos nessa festa. Vá entender!

 

Algumas Regras sobre Alongamentos Movimentos

Então o alongamento é uma coisa do capeta? Não. Alongamentos intermitentes, feitos de maneira frequente dentro da amplitude disponível no momento, ajudarão (muito gradualmente) em um remodelamento em nível celular, para torná-lo mais móvel.

Esta é uma questão complexa, então para fechar, existem alguns pontos que precisamos considerar para que possamos reformular a questão de como se tornar mais móvel. Talvez devêssemos:

  • Parar com a baboseira do sem-dor-sem-ganho, e ao invés disso, aceitar uma verdade sobre os tecidos humanos: Não demais, não muito pouco, mas a quantidade certa de entrada de informações (N.T: Entrada de informações, do inglês: input) nos mantém saudáveis e móveis.
  • Parar com o “alongar pedaços rígidos para fazê-los mais maleáveis” e “somos pedaços inanimados de argila”. Somos organismos vivos. Nosso sistema nervoso está no comando. Temos que ter um diálogo com ele e não ter a pretensão de sobrepujá-lo (N.T: No sentido de forçar uma mobilidade que não está acessível, forçar contra restrições que estão ali como medida de proteção, uma tentativa de criar estabilidade no sistema).
  • Parar de ter a pretensão de colocar o movimento em uma caixa de: “exercícios” e “não-exercícios”, quando na realidade, estamos nos movimentando o tempo todo. Movimento e NÃO o EXERCÍCIO é o que determina nossa forma e mobilidade.
  • Parar de alongar até a capacidade máxima, ao invés disso, fazer intervalos de alongamentos intermitentes mais suaves.
  • Desistir da ideia de que se alongar demais é melhor. Um comprimento muscular funcional é melhor; hipermobilidade é problema.
Instituto Fortius