Artigo original: Stretching Doesn’t Work (the Way you Think it Does).
Continuando com o artigo sobre alongamentos, o mais importante a ser tirado de lição é se ter a percepção de que muitas vezes, o aparente “encurtamento” é uma medida de proteção, uma tentativa do sistema nervoso central de criar estabilidade porque há falha em outra parte. Os músculos que deveriam fornecer estabilidade estão inibidos/sub-ativos/com atraso de ativação, chame como quiser. Nesse caso, o provável mecanismo de compensação pode ser aumentar a rigidez de outros músculos, tornando-os menos móveis. Forçar um alongamento nesse caso, não vai adiantar.
Aos que não leram a primeira parte: Alongamentos Não Funcionam – Parte 1.
Em relação a parte do use-ou-perca na equação de flexibilidade, vamos falar a respeito dos sarcômeros, baseados no livro citado, de Katy Bowman. Ela é uma campeã em fazer as pessoas entenderem as diferenças entre frequência e intensidade.
Resumindo, aquilo que fazemos com nossos corpos na maior parte do tempo, supera o que fazemos nos nossos treinamentos (ou mais especificamente nesse nosso caso, os alongamentos) em uma pequena parcela do nosso dia. Em relação a flexibilidade, isto significa que se nos sentamos o dia inteiro numa cadeira, com o passar do tempo desenvolveremos isquiotibiais encurtados (N.T: Encurtamento adaptativo é como chamam isso, creio eu).
Aqui um exemplo do papel dos sarcômeros: São a unidade contrátil básica de nossos músculos. Os músculos se movem porque os sarcômeros geram força e movimento. Quando se está frequentemente na mesma posição, como no nosso exemplo da cadeira, os sarcômeros mudam em nível celular, a fim de tornar mais fácil de se fazer aquilo que se está fazendo no momento (o ficar sentado na cadeira com os joelhos flexionados). Estes sarcômeros irão na realidade se moldar, para que o novo normal seja aquela posição com os joelhos flexionados, sentado na cadeira.
O caminho para a reabilitação não passa por alongar os isquiotibiais até a amplitude máxima de 30 a 90 segundos por dia.
Colocando o trabalho de Mitchell e Bowman juntos, este tipo de reabilitação realiza algumas coisas fundamentais:
1º – Lembrar dos sarcômeros, alcançar o comprimento que você gostaria, através de incrementos graduais da carga imposta, em amplitudes saudáveis de movimento.
2º – Proporcionar mais oportunidades de movimentos naturais (simplificando: movimento natural = movimentos que nossos ancestrais usavam para poder sobreviver, como: caminhar, dobrar o tronco, escalar, sempre com alinhamento apropriado), que irão desenvolver força e adaptabilidade.
Isto permite ao sistema nervoso sentir-se seguro em relação a experimentar novas amplitudes de movimento, enquanto que simultaneamente revela padrões de movimento compensatórios que fizeram com que o sistema nervoso colocasse os freios nessa amplitude.
Com o que isso se parece na prática? Deixe-me contar a respeito de meus pés. Verão passado, eu tinha que por meus calçados de trilha rígidos, a fim de desbravar as trilhas rochosas aqui da Nova Inglaterra. Sempre que eu tentava vestir um calçado com uma sola mais flexível, meus pés doíam. Determinada a que meus pés se tornassem mais flexíveis, passei o ano inteiro vestindo somente calçados de solado baixo, flexíveis, andando descalça o máximo possível, aumentando a minha quilometragem de caminhadas e intencionalmente buscando a maior diversidade de terreno que pudesse encontrar.
Avançando o tempo até o final deste verão, eu tenho feito trilhas diariamente, em inclinações, superfícies lisas, solo rochoso, etc. sempre nas minhas sandálias de trilha (N.T: O calçado a que ela se refere é este: Unshoes. Imagem acima). E o que me deixa maravilhada é que estas trilhas fazem com que eu sinta como se fosse uma massagem nos pés, não importando quão longa é a trilha. Me encontro intencionalmente subindo em áreas rochosas da trilha porque sinto que isso é bom para meus pés. Mas o que aconteceu a meus pés?
Eu incrementei gradualmente – através de 1 ano – a carga sobre meus pés, de diversas maneiras diferentes, como resultado, suas 33 articulações agora são mais flexíveis. Meus pés também estão mais fortes. Flexíveis e fortes aparecem juntos nessa festa. Vá entender!
Então o alongamento é uma coisa do capeta? Não. Alongamentos intermitentes, feitos de maneira frequente dentro da amplitude disponível no momento, ajudarão (muito gradualmente) em um remodelamento em nível celular, para torná-lo mais móvel.
Esta é uma questão complexa, então para fechar, existem alguns pontos que precisamos considerar para que possamos reformular a questão de como se tornar mais móvel. Talvez devêssemos: