Continuação do artigo escrito baseado em uma palestra do Mike Boyle de 2007, apesar de ter sido escrito há algum tempo, ele ainda defende as mesmas ideias em relação ao treino intervalado.
Nessa segunda parte ele aborda aspectos mais técnicos relacionados com o tema. O artigo original está publicado em seu site, que é pago, strengthcoach.com. Vale a pena a conferida no site, muitos artigos, palestras online, vídeos e um fórum muito bom.
Aos que perderam a primeira parte, aqui vai o link: Treino Intervalado para Clientes – Parte 1.
Boa leitura a todos!
Existem 2 métodos primários de desempenhar o treinamento intervalado:
O primeiro é o convencional método “Trabalho:Descanso” (N.T: Ou trabalho-pausa. Já que o termo em inglês é: Work to Rest). Este método usa um tempo definido para o trabalho (N.T: Exercício) e um tempo definido para o descanso. As proporções são determinadas e o atleta ou o cliente descansa geralmente 1, 2 ou 3 vezes o comprimento do tempo de exercício antes de repetir a próxima série.
A grande desvantagem do método trabalho-pausa é que o tempo é arbitrário. Não temos nenhuma ideia do que na realidade está acontecendo dentro do corpo, nós simplesmente supomos. Na verdade, por muitos anos nós apenas supomos, já que não tínhamos nenhuma outra forma de medir ou controlar.
(N.T: Na imagem acima um temporizador, usado comumente neste método, ele apita quando inicia/termina o período de exercício/descanso. No caso da imagem, são 30 segundos de exercícios e 10 segundos de pausa, programados para 7 séries).
Com a produção em massa de monitores cardíacos de baixo custo não precisamos mais ficar adivinhando. O futuro do treinamento intervalado está na acurácia de monitores cardíacos de baixo custo. Com um monitor não há mais adivinhação. Não olhamos mais para o tempo como uma medida de recuperação, como fazíamos no Método Trabalho:Pausa, agora olhamos para a fisiologia.O que é importante entender é que frequência cardíaca e intensidade estão intimamente relacionadas. Embora a frequência cardíaca não seja uma medida direta e a prova de falhas de intensidade ou recuperação, é muito superior do que apenas escolher um tempo arbitrário de recuperação. Para usar o método da frequência cardíaca, simplesmente escolha uma frequência cardíaca de recuperação apropriada.
No nosso caso, usamos 60% da teórica frequência cardíaca máxima, calculada através da fórmula de Karvonen (veja mais abaixo o Problema com Fórmulas). Após um intervalo de trabalho de um tempo predeterminado ser completado, a recuperação é ajustada simplesmente através do tempo necessário para que a frequência cardíaca retorne ao número determinado.
Quando usamos a resposta da frequência cardíaca o panorama todo muda. A recuperação inicial de atletas e clientes bem condicionados é frequentemente rápida e curta. Na verdade, a proporção entre trabalho:descanso pode ser menos do que 1:1 nas primeiras séries. Um exemplo de uma sessão típica para um cliente ou atleta bem condicionado é mostrado abaixo.
Intervalo 1: Trabalho 60 segundos – Descanso 45 segundos
* Em uma “programação convencional 1:2” baseada no tempo, o descanso seria muito longo para os primeiros três intervalos, fazendo com que eles fossem potencialmente menos efetivos.
(N.T: Refere-se ao método anterior, 1:2 significa o dobro do tempo de descanso em relação ao tempo de trabalho. Neste exemplo seria: 60:120 segundos).
O contrário é verdadeiro para o atleta ou cliente mal condicionado. Tenho visto jovens atletas mal condicionados necessitarem descansar um tempo 8 vezes superior a quantidade de tempo do intervalo de trabalho. Na verdade, temos visto atletas que precisam de 2 minutos de descanso após um intervalo de 15 segundos.
No método da frequência cardíaca o tempo de intervalo vai focando mais longo na medida em que as séries se sucedem. O primeiro descanso do exemplo acima é 1:0,75, enquanto o último é 1:1,5.
Ao menos 70% da população não cabe nas velhas fórmulas teóricas “menos a idade”. Estranhamente, quando escrevo este fato geralmente recebo respostas iradas do pessoal da fisiologia. No entanto, isso não se torna menos verdade.
A fórmula: 220 – idade é falha em dois pontos chave:
Mesmo o criador desta famosa fórmula admite que seus pensamentos foram tirados fora do contexto. Um método mais acurado é chamado Método da Frequência Cardíaca de Reserva ou Fórmula de Karvonen:
(200 – 60) x 0,8 + 60 = 172 bpm
OBS: FC = Frequência Cardíaca; 0,8 = 80%; bpm = batimentos por minuto
O ponto chave da fórmula de Karvonen é que ela considera medidas menos arbitrárias ao incorporar a frequência cardíaca de repouso (N.T: Ou seja, incorporamos algo individual, que pode ser medido, dentro da fórmula).
O campo da ciência do exercício está em um estado de fluxo como nunca vimos nos últimos 30 anos. Existe uma distinta falta de clareza na antiga fisiologia do exercício da idade da pedra. No passado, tínhamos uma crença firme em conceitos como limiar anaeróbico ou limiar de lactato.
Questão: Qual a diferença entre Limiar Anaeróbico, Limiar de Lactato e Limiar Ventilatório?
Limiar Anaeróbico:
Termo aplicado ao ponto de inflexão do lactato, ou o ponto em que o aparecimento do lactato no sangue acumula mais rápido do que sua taxa de uso.
Pensava-se anteriormente (incorretamente) que uma falta de oxigênio suficiente para o músculo modificava a entrega de energia para o metabolismo anaeróbico, resultando em um aumento na produção de lactato e causando a fadiga. Uma vez que o lactato não causa fadiga, nem determina o metabolismo anaeróbico, o equívoco do limiar anaeróbico foi rejeitado como um conceito quase duas décadas atrás.
Falando de forma simples, limiar “anaeróbico” não existe.
Limiar de Lactato:
Um conceito mais recente e descritivo para o ponto de inflexão de lactato descrito acima. Devido à confusão a respeito do lactato ser a fonte da fadiga, pensava-se que a carga de trabalho logo abaixo do acúmulo de lactato sanguíneo refletia o nível máximo sustentável de performance (medido tipicamente como 1 hora contra o relógio).
A despeito do fato de que o Limiar de Lactato é um nome mais descritivo para o ponto de inflexão do lactato do que Limiar Anaeróbico, pesquisas atuais sugerem que isso tende a subestimar a performance contra o relógio. Talvez algo mais importante a se considerar é que existem nada menos que quatro diferentes métodos estabelecidos de medir e interpretar o limiar de lactato.
Uma vez que o campo da ciência do exercício não concorda sobre um único método, e cada método pode produzir um conjunto diferente de resultados para um determinado atleta, limiar de lactato tem uma validade e acurácia questionável em medir performance.
Limiar Ventilatório:
Descreve um ponto de inflexão para ventilação durante um teste de exercício com incremento de carga. A ventilação aumenta mais ou menos no mesmo ritmo que o consumo do oxigênio até cerca de 50-70% do VO2 máximo (dependendo do nível de treinamento do indivíduo).
Neste ponto (logo além do limiar ventilatório) a ventilação cresce exponencialmente. Alguns pesquisadores identificaram 2 limiares ventilatórios. Embora ventilação não seja um limitador da performance, existe evidência sugerindo que a potência do Limiar Ventilatório prevê a potência média para 40 km contra o relógio.
No entanto, similar aos testes de Limiar de Lactato, existem múltiplos testes de VO2 máximo e a validade dos resultados varia de teste para teste. É mais importante medir performance e aplicabilidade para o treinamento usando um monitor cardíaco, Limiar Ventilatório prediz acuradamente e confiavelmente o limiar.
Significa que quanto mais sabemos, mais não sabemos. O fato é que sabemos muito pouco a respeito de exercício, lactato, etc. Ainda que nos apresentemos como especialistas. Aqui estão algumas coisas simples que sei que irão ajudar na construção de programas de treino intervalado:
Lembre-se, embora eu esteja recomendando a frequência cardíaca como a melhor maneira de controlar o treino intervalado, baseado no estudo de Gibala, a frequência cardíaca pode não contar a estória de maneira completa.
Quanto mais longo o intervalo, mais curto o descanso como um percentual do intervalo. Em outras palavras, intervalos curtos com uma maior demanda muscular irão requerer descansos mais longos quando vistos como uma porcentagem do intervalo.
Intervalos de 15 segundos irão necessitar um mínimo de 1:2 na proporção trabalho:descanso. 1:3 funcionará melhor para iniciantes.
– Intervalo de 15 segundos: Iniciantes no mínimo 45 segundos (1:3); mais avançados 30 segundos (1:2).
– Intervalo de 30 segundos: Descanse de 1 minuto a 1 minuto e 30 segundos (1:2 ou 1:3).
– Intervalo de 1 minuto: Descanse de 1-2 minutos (1:1 ou 1:2).
Lembre-se, a medida que os intervalos ficam mais longos, o tempo de recuperação não precisa ser tão longo em relação ao intervalo. Em outras palavras, um intervalo de 2 minutos pode necessitar apenas de um descanso de 2 minutos (N.T Proporção 1:1).
O maior benefício do treino intervalado é obter um tremendo benefício aeróbico sem o tédio de um longo exercício contínuo. Na verdade, podemos obter benefícios superiores, tanto para o condicionamento quanto para perda de gordura ao incorporar este método.
Se a frequência cardíaca é mantida acima do limiar teórico de 60% proposto para o treino aeróbico, então a sessão inteira será aeróbica e anaeróbica. Por isto que quase não fazemos nenhum treino aeróbico “convencional” aqui no meu centro de treinamento (N.T: Mike Boyle Strength and Conditioning é o nome do centro dele).
Todo nosso trabalho aeróbico é um sub-produto de nosso trabalho anaeróbico. Meus atletas e clientes podem atingir sua frequência cardíaca no limite aeróbico recomendado por 15-20 minutos, ainda que em alguns casos façamos somente 5-7 minutos de trabalho.
Embora a maior parte das pessoas visualize o treino intervalado como um conceito do atletismo, nosso modo preferencial de treino intervalado é feito na bicicleta ergométrica. Embora eu pense que correr é “teoricamente” o melhor modo de treino, os fatos são claros.
A maior parte dos americanos não são condicionados o suficiente para correr. Na verdade, as estatísticas estimam que 60% daqueles que começam a correr irão se lesionar. Em um cenário de fitness ou de clientes de personal training isso é inaceitável.
Mulheres, baseado na genética do corpo (quadris mais largos, joelhos estreitos) estão em um maior risco potencial. A fisioterapeuta Diane Lee resume bem ao declarar:
“Você não pode correr para entrar em forma, precisa estar em forma para correr”.
O treino intervalado no entanto, pode ser feito em qualquer peça de equipamento. A escolha mais eficiente, na minha opinião, seria uma bicicleta de ação dupla como a Schwinn AirDyne (N.T: Aqui no Brasil as Assault Bike estão se tornando populares, têm uma construção similar às AirDyne e preço mais acessível).
A bicicleta permite, nas palavras do especialista em aumento de performance Alwyn Cosgrove, “máximo distúrbio metabólico com o mínimo de ruptura muscular”. Em outras palavras, podemos treinar forte e não se machucar.
Indivíduos condicionados podem escolher qualquer modo que gostem, no entanto, a bicicleta é a melhor e mais segura escolha. A pior escolha, em minha opinião, são os elípticos. Charles Staley, outro especialista em treinamento, tem um conceito chamado o “princípio de 180º”.
Que prega fazer exatamente o oposto do que você vê todo mundo fazendo na academia. E eu concordo. Caminhar na esteira e usar o elíptico parecem ser os modos de treinamento mais populares nas academias. Minha conclusão, suportada pelo princípio de 180º de Staley, é de que nenhum dos dois tem muita serventia.
Correr
Correr é relativo. Correr em linha reta por 30 segundos é significativamente mais fácil que fazer um shuttle por 30 segundos.
Corrida na Esteira
Problemas Adicionais
Bicicleta Ergométrica
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Climbers e Elípticos
O treino intervalado é superior ao treino aeróbico convencional para quase qualquer objetivo de condicionamento físico. As pesquisas continuam a se acumular mostrando que o treino intervalado irá melhorar mais o condicionamento do que o treino contínuo convencional e irá ser mais eficiente em reduzir gordura. A realidade é que se quiser melhores resultados para você e seus clientes, faça treinos intervalados.
Para ver o texto completo: jp.physoc.org/cgi/content/full/575/3/901
Artigo Original: Interval Training – HIIT or Miss?