Ícone de fechar

Exercícios para o Manguito Rotador

Por Marcus Lima em 13 de março de 2019

Artigo do Eric Cressey, preparador físico da área de Boston que trabalha muito com atletas de beisebol, especialmente com arremessadores, falando sobre o grupo muscular do manguito rotador.

Inseri diversas notas explicativas dos vídeos em inglês, a fim de facilitar a compreensão dos que têm um pouco de dificuldade com o idioma.

 

3 Pontos sobre a Prontidão do Manguito Rotador

Eric Cressey

Adaptação: Prof Marcus Lima

 

Ambas as instalações da Cressey Sports Performance estão cheias de jogadores de beisebol retornando para iniciar sua pré-temporada, então é a época do ano em que os atletas trabalham duro para retomar o controle do grupo do manguito rotador, antes que comecem os programas de lançamento de pré-temporada.

Isso dito, tenho pensado a respeito de alguns grandes princípios da prontidão do manguito rotador.

 

1 – Em um sentido amplo, cada exercício para o manguito rotador pode ser categorizado em uma de 5 maneiras:

 

a. Força muscular.

Esta consiste de trabalho com resistência manual e qualquer implemento, de cabos a halteres; é necessário que exista uma sobrecarga e que seja desafiador.

 

b. Timing.

Consiste de exercícios como a sustentação 90/90 e estabilizações rítmicas.

(N.T: A palavra “timing” nesse contexto poderia ser traduzida por “sincronicidade”. A sincronia de ativação desse grupo muscular).


(N.T: No vídeo ele explica que esse exercício visa reproduzir a função do manguito rotador em contrair de maneira reflexa para segurar a cabeça do úmero na cavidade glenóide.

E que esse não é um exercício em que se deva “sentir” alguma região, pela arquitetura desse grupo de músculos é muito difícil colocá-los em uma amplitude que nos permita ter a “sensação” de contração muscular, ainda, se o executante “sente” algo em geral esse “algo” é sinal de problemas. Em se tratando de uma população de arremessadores eles tendem a sentir a região da inserção da cabeça longa bíceps, na parte anterior do ombro.

O exercício em si consiste em em colocar o executante com o braço em uma determinada posição e pedir que ele o mantenha parado enquanto se aplicam estímulos rápidos em diferentes direções (como mostra a imagem acima). Uma última observação é que se o executante sentir a parte anterior do ombro talvez se esteja aplicando muita força na estabilização rítmica ou uma alavanca muito grande, diminua a resistência aplicada e a aplique mais próximo ao ombro).  


c. Resistência.

Construída sobre o que vimos na primeira categoria (alguns dos mesmos exercícios), mas a resistência externa é um pouco menor e os exercícios são feitos com maior número de repetições ou por um período mais longo. O objetivo é menos em relação à força muscular e mais no sentido de treinar a capacidade de sustentar a cabeça do úmero na cavidade glenóide por um período maior de tempo.

Eu diria que é mais importante para um esporte como a natação do que para atletas de beisebol ou tênis.


(N.T: No vídeo o Cressey aponta alguns erros que são cometidos na execução de exercícios de rotação externa do ombro. Ele usa um meio rolo, ou pode ser uma toalha, qualquer coisa, para manter o ombro abduzido em 30° e um suporte para a cabeça. Alguns pontos importantes:

– O ombro que está em contato com o solo deve estar em uma posição neutra, e não encolhido.

– A escápula do ombro que vai executar o exercício não deve estar em uma inclinação anterior (ombro para frente) essa posição favorece o impacto no espaço subacromial (espaço entre o acrômio e a cabeça do úmero, como mostrado na imagem abaixo) e desfavorece o manguito rotador.

A escápula deve estar em uma posição de leve retração e inclinação posterior (favorece o manguito rotador).


d. Irradiação.

Pode ser referido a quase que qualquer exercício, já que o manguito rotador tem uma ativação reflexa sempre que o braço se move. Com isso dito, certos exercícios – como variações com o kettlebell virado para cima por exemplo (N.T Em inglês: kettlebell bottom up) – são particularmente úteis ao desafiar essa categoria de exercícios.

(N.T: A irradiação é um princípio do FNP – Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva, dita que a ativação distal tem um reflexo proximal, nesse caso, a preensão manual tem um reflexo, uma irradiação, de ativação no ombro, mais precisamente no manguito rotador).


(N.T: Ele usa esse exercício com um ângulo de flexão do ombro entre 80-110°, e alerta que muitos irão usar a cabeça longa do bíceps braquial para fazer o trabalho da flexão do ombro e acabam sentindo a parte anterior do ombro no exercício.

O que ele faz nesses casos é reposicionar manualmente a escápula em rotação superior e inclinação posterior – imagem acima.

Com a mão esquerda ele está fazendo a inclinação posterior da escápula e com a direita a rotação superior. Esse reposicionamento manual pode ser usado em outros exercícios em que o ombro participa, ao se levantar um peso, por exemplo.

Uma outra saída é usar uma regressão de menor flexão do ombro (braço mais baixo).

Ainda, se pode abduzir mais o ombro (braço mais para fora) ficando mais alinhado com o chamado plano escapular.

Outros podem responder a uma estratégia mais global de controle do core, em virtude da postura estar interferindo no complexo do ombro – pelve com inclinação anterior, lombar em extensão, gradil costal projetado à frente em um posicionamento com direção cranial).


e. Padronização.

Exercícios que fazem com que o úmero alcance sua amplitude total de movimento. De particular importância (N.T: Para arremessadores de beisebol, que é a população que o autor mais trabalha. Embora possa ser adaptado a outras populações esportivas que usam grandes amplitudes na glenoumeral) é a amplitude final de rotação externa do ombro, que treinamos com exercícios como este:

 

2. Eu prefiro uma exposição quase diária ao invés de programas exaustivos com menor frequência.

Se você analisar nossos programas de treinamento, a maior parte dos nossos atletas profissionais estará fazendo algum treino com foco no manguito rotador 5-6 vezes na semana. 2x por semana fazemos um trabalho mais concentrado em força muscular e irradiação e 2x/semana cobrimos exercícios que trabalhem o timing.

Embora quase todos os dias façamos algum tipo de exercício que use o padrão que eles precisam, para que assim lembremos o grupo de músculos do manguito rotador do que eles precisam fazer.

Essa abordagem é um grande contraste com o que normalmente vemos no mundo do beisebol, que é notório por distribuir rotinas de cuidado com o braço 2x/semana que levam de 45-60 minutos.

Normalmente são cerca de 15 exercícios de múltiplas séries e deixam o atleta com o braço extenuado ao final da sessão.

Penso que essa abordagem tem mais a ver com o fato de se alinhar com o que é conveniente em sessões de fisioterapia de 2-3x/semana do que por ser verdadeiramente ideal. Sou da crença que você não precisa (ou queira) exaurir o manguito rotador para chegar onde deseja.

E, enquanto estamos nesse assunto, se o manguito é requerido em uma base diária com os arremessos, levantamentos de peso, atividades da vida diária, por que não dar uma exposição mais frequente a fim de construir um pouco de resiliência do tecido?

 

3. Deltóide posterior não deveria ser confundido com o infraespinal e o redondo menor.

Muitas vezes a razão por termos desconforto ou a sensação “estranha” nos exercícios é em virtude dos atletas estarem prestando muita atenção na osteocinemática da articulação em questão – movimentos de rotação externa/interna, flexão/extensão. adução/abdução, e não prestando atenção na artrocinemática da mesma articulação.

(N.T: Em termos gerais a osteocinemática descreve o movimento dos ossos em relação aos 3 planos do corpo – sagital, frontal e transverso)

(N.T: Já a artocinemática descreve o movimento que ocorre entre as superfícies articulares. Segundo Neumann em seu livro “Cinesiologia do Aparelho Musculosquelético, 2011” existem 3 movimentos fundamentais entre superfícies articulares curvas – rolamento, deslizamento e giro).

Em outras palavras, o rolamento e deslizamento da articulação glenoumeral (N.T: a imagem abaixo mostra a artrocinemática da articulação glenoumeral durante a abdução ativa) tem de ser controlado dentro de uma janela apertada para assegurar o movimento ideal.

LCS – Ligamento capsular superior; LCI – Ligamento capsular inferior

Nas variações de rotação externa do ombro, a cabeça do úmero tende a deslizar anteriormente na cavidade glenóide. Os ligamentos glenoumerais (cápsula anterior do ombro), o manguito rotador e o tendão bicipital são as únicas coisas que podem sustentar o úmero na cavidade.

Na população de arremessadores a cápsula é normalmente um pouco frouxa e o manguito um pouco fraco, portanto o tendão do bíceps braquial frequentemente tem de assumir o fardo – e é por isso que alguns acabam sentindo a parte da frente do ombro, fortalecendo, portanto, um mau padrão.

Também existem muitos nervos na parte anterior do ombro que podem acabar irritados.

Agora as coisas ficam mais complexas. O infraespinal e o redondo menor fazem parte do manguito rotador e se inserem diretamente na cabeça do úmero, portanto eles podem controlar a artrocinemática (deslizamento posterior) durante a rotação externa da articulação glenoumeral.

Inversamente, o deltóide posterior (em azul na imagem abaixo) se insere na parte posterior da espinha da escápula até o tubérculo deltóideo. Em outras palavras, ele não controla a cabeça do úmero.

Com isto em mente, o deltóide posterior na realidade cria um deslizamento anterior da cabeça do úmero na medida em que roda externamente e abduz horizontalmente o braço. Por essa razão, você precisa se assegurar de que o braço não faça uma abdução horizontal durante os exercícios de rotação externa. O vídeo abaixo deve clarear as coisas se você aprende melhor visualmente.


(N.T: No vídeo acima o autor dá algumas orientações quanto ao exercício de rotação externa do ombro no cabo – exercício muito comum usado na reabilitação, seja usando o cabo ou elásticos.

– É comum que haja uma anteriorização da cabeça do úmero nesta posição de exercício, colocando stress no tendão da cabeça longa do bíceps braquial.

– Neste exercício o único movimento que deve existir é a rotação, uma dica verbal seria: “Imagine que um ferro está cravado ao longo do membro, como um eixo, permitindo somente a rotação”. Esse eixo imaginário está representado pelo traço vermelho na imagem acima. 

– Garantir que seja mantido o centramento articular ideal. O conceito de centramento articular está bem descrito em outro artigo neste espaço chamado “O que é o DNS – Parte 1”).


Se estiver procurando mais dicas como essas confira meu novo material: Sturdy Shoulder Solutions.

 

 


Artigo Original: 3 Random Thoughts on Rotator Cuff Readiness.

Instituto Fortius