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Contato do Calcanhar no Solo

Por Marcus Lima em 30 de agosto de 2015

Artigo explorando as relações do contato do calcanhar no solo durante o ciclo da marcha com diversas compensações pelo corpo.

Além disso, ele destaca um dos subsistemas, o longitudinal profundo. Não sei quem é o pai da criança, quem trouxe este conceito dos subsistemas, uns dizem que foi o pessoal da NASM – National Academy of Sports Medicine, mas em alguns textos antigos do Paul Chek ele já abordava o tema. Vasculhando nos arquivos do blog Limatreinamento, encontrei este artigo do Check onde ele fala sobre os subsistemas: A Unidade Externa.

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O Contato do Calcanhar no Solo e o Subsistema Longitudinal Profundo

Brock Easter

 

“Para cada ação, existe uma reação igual e oposta” 
3ª Lei de Movimento de Newton

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Se pegarmos a 3ª Lei de Newton e a aplicarmos à marcha, então podemos começar a entender como nosso corpo precisa absorver uma força equivalente ao nosso próprio peso corporal a cada passo que damos. Esta força de reação do solo é a razão pela qual a fase da marcha conhecida como “contato do calcanhar com o solo” (N.T: “heel strike” em inglês) é tão importante. Ela ajusta o corpo para dispersar forças através do corpo a cada passo, como a natureza  projetou.

Durante o contato inicial entre o solo e o pé, é importante que o parte lateral do calcâneo faça o contato inicial. Ao olharmos para a anatomia do calcâneo abaixo, vemos como ela evoluiu para golpear o solo lateralmente e rolar medialmente para absorver a força de reação do solo.

Uma pronação eficiente durante a fase de apoio prepara o estágio seguinte, uma supinação eficiente durante a propulsão.

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Vista posterior do calcâneo direito

 

Ciclo da marcha

Durante o contato inicial do calcanhar, o que conhecemos como Subsistema Longitudinal Profundo contrai de maneira concêntrica após ter contraído de maneira excêntrica durante a fase de balanço da marcha.

Este subsistema é extremamente importante para uma distribuição eficiente das forças de reação do solo durante o contato do calcanhar.

(N.T: O subsistema Longitudinal Profundo compreende o fibular longo e o tibial anterior, os 2 tendões destes músculos formam uma espécie de alça que ajuda a controlar a pronação-supinação do pé, como podemos ver na figura abaixo; o fibular longo é um pronador e o tibial anterior é um supinador. O subsistema continua com a cabeça longa do bíceps femoral, depois o ligamento sacrotuberoso ou sacrotuberal. Podemos ainda subir o subsistema através do ligamento sacrotuberoso até os extensores lombares do lado oposto).

Subsistema Longitudinal Profundo

O que acontece se houver alguma ineficiência dentro desse subsistema?

Podemos apostar que as articulações que suportam cargas dentro do sistema irão ser forçadas a lidar com forças e cargas aumentadas. Quadris, joelhos, coluna lombar e talvez até mesmo o pescoço!

Como se apresentam as dores neste caso pode variar muito.

Permitam-me compartilhar um caso interessante que ocorreu no meu consultório…

Uma garota de 17 anos me procurou com dores abdominais no quadrante inferior direito que já duravam um ano. Testes sanguíneos e de imagem foram todos negativos para os suspeitos usuais, então seu médico a encaminhou para mim, suspeitando que as dores tivessem origem musculoesquelética.

Esta paciente em particular estava em excelente forma física, já que tinha sido dançarina antes de ter sofrido uma concussão uns anos antes. Supus que a concussão contribuiu com rigidez através do sistema, o que afetou a maneira pela qual seu corpo absorvia as forças de reação do solo geradas a cada passo que ela dava.

Eu fiz esta suposição em virtude da sua rotação lombopélvica estar restrita e a dor era agravada SOMENTE quando caminhava. Para ser específico, durante o contato inicial do calcanhar.

Usando Anatomy in Motion (N.T: Para saber mais sobre este método, Anatomy in Motion-AiM, acesse o site: Anatomy in Motion) nós exploramos seu contato do calcanhar em 3 dimensões e encontramos a coluna lombar sofrendo toda carga excêntrica durante esta fase da marcha, compensando pelo mau funcionamento do Subsistema Longitudinal Profundo.

Minha avaliação (N.T: Usando testes musculares manuais), complementou este achado, porque achei os eretores espinhais/fáscia toracolombar facilitados (N.T: Hiperativos, com excesso de ativação) compensando por inibição (N.T: Subativação, ou atraso na ativação) nos isquiotibiais. Agora, o porquê desta disfunção ter se apresentado como dor no quadrante inferior direito da região abdominal é algo que não consigo explicar.

O que posso dizer é que a medida que seu corpo começou a tornar-se mais confortável explorando o contato do calcanhar usando técnicas da Anatomy in Motion, ela começou a sentir o subsistema longitudinal profundo contrair de maneira excêntrica.

Isso criou uma imediata redução na dor durante a caminhada e dentro de uma semana, fazendo os exercícios que indiquei para que fizesse em casa, a dor diminuiu de “6”, em uma escala de 0 a 10, em cada passo que ela dava, para 1/10 (N.T: Usando uma das muitas escalas da dor, na figura abaixo um exemplo de uma delas). Tudo isso retreinando o subsistema longitudinal profundo durante o contato do calcanhar.

Adaptado de Thomeé, 1997 e Silbernagel, 2007.

Além dessa paciente, tenho visto uma variedade de apresentações de dor que foram corrigidas ou ao menos significantemente diminuídas ao retreinar o subsistema longitudinal profundo durante o contato do calcanhar.

Dores na coluna lombar, quadril e até mesmo no pescoço. Às vezes é requerida uma terapia manual para permitir ao corpo um acesso eficiente ao uso deste subsistema, mas por vezes, tudo que precisamos é um pouco de consciência corporal.

De qualquer maneira, uma vez que se mostra ao corpo uma alternativa eficiente a um padrão de movimento doloroso, ele tende a recompensá-lo escolhendo esta opção ao invés da opção do padrão disfuncional. É quase como se o corpo fosse programado para andar de maneira eficiente até que lesões antigas e tarefas repetitivas comprometam a tarefa e criem compensações.

A boa notícia é que o corpo é fenomenal em se adaptar. Forneça a entrada de informações sensoriais correta ao corpo, e ele irá corresponder como uma saída de informações motoras otimizada.
(N.T: Entrada de informações, tradução do termo em inglês “input”. Saída de informações, tradução do termo em inglês “output”. Ambos termos em inglês são bastante usados aqui no Brasil).

Se a dor tem um alívio apenas temporário com o tratamento (quiropraxia, massagem, fisioterapia, etc.) então você pode promover mudanças reveladoras durante o trabalho com os padrões de marcha.

Pode ser o tempo de mudar a maneira pela qual se move. 

 


Referências: 

Thomeé, R. A Comprehensive Treatment Approach for Patellofemoral Pain Syndrome in Young Women. Physical Therapy, 1997.

Silbernagel, K. G., Thomeé, R., Eriksson, B. I., Karlsson, J. Continued Sports Activity, Using a Pain-Monitoring Model, During Rehabilitation in Patients With Achilles Tendinopathy: A Randomized Controlled Study. The American Journal of Sports Medicine, 2007.

 

Artigo original: Heel Strike and the Deep Longitudinal Subsystem.

Instituto Fortius