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Anatomia do Ombro

Por Marcus Lima em 18 de outubro de 2019

Artigo que fala sobre a anatomia do ombro, mais especificamente as implicações que a estrutura anatômica têm no movimento. Já havíamos adaptado artigos dentro do mesmo viés, mas envolvendo o quadril, agora é a vez do ombro.

Boa leitura.

 

 

Por que os Ombros TÊM de se Mover de Maneira Diferente

Ryan DeBell

 

Introdução

Quando se trata de mobilidade articular o ombro é rei. É a articulação mais móvel do corpo humano.

Com isso dito, não podemos esperar que todos os ombros desempenhem da mesma maneira e tenham a mesma quantidade de mobilidade, não importa quanto de alongamento as pessoas façam.

Assim como existem diferenças na anatomia da articulação do quadril que afeta o agachamento e outros movimentos (N.T: Confira o artigo Além do Arredondamento da Lombar no Agachamento – Parte 1, no Blog Limatreinamento), existem diferenças anatômicas entre os ombros, diferenças no formato dos ossos que irão afetar a mobilidade da flexão do ombro acima da cabeça.

Neste artigo iremos discutir as variações anatômicas dos ossos do ombro e como isso afeta a amplitude de movimento.

 

O que Limita a Amplitude de Movimento?

Todas articulações têm um limite para sua amplitude de movimento – e isso é uma coisa boa. Eventualmente algo que não pode ser modificado (e não deveria) irá limitar a amplitude da articulação.

Se assim não fosse as articulações seriam instáveis e iriam se desmontar.

As seguintes estruturas limitam a amplitude de movimento articular:

  • Tônus muscular.
  • Aproximação dos tecidos moles.
  • Aproximação óssea.
  • Tensão passiva do tecido.

Para entender essas limitações fizemos um podcast (N.T: Podcast Mobility, Stability) cobrindo as diferenças entre mobilidade ativa e passiva que elaboram estes conceitos.

 

Anatomia Óssea do Ombro

A ideia que qualquer um, com alongamento, pode alcançar a mesma amplitude de movimento no ombro é falsa. Como podemos saber? Vamos discutir a anatomia óssea do ombro.

A articulação é formada por 2 ossos:

  1. Úmero.
  2. Escápula.

 Estrutura óssea da anatomia do ombro.

Na escápula está a cavidade glenóide onde a cabeça do úmero se articula. Juntos eles formam a articulação de “bola e soquete”, um tipo de articulação altamente móvel.

A escápula tem 3 partes principais que podem variar de pessoa à pessoa e irão afetar a mobilidade do ombro:

  1. O acrômio.
  2. A cavidade (N.T: Ou fossa) glenóide.
  3. A curvatura do corpo escapular.

Partes da escápula.

O úmero também varia em sua torção de pessoa para pessoa.


(N.T: A cabeça do úmero é virada para trás se tomarmos como referência um eixo medial-lateral, ou, em outras palavras, de um lado a outro.

A rotação conhecida como retroversão – latim retro = para trás + verto = virar – alinha a cabeça umeral com o plano escapular.

Pesquisadores inclusive encontraram diferenças na quantidade de retroversão, e, portanto, da torção, dentro do mesmo indivíduo. Arremessadores de beisebol de elite têm uma retroversão umeral maior no braço dominante, teoriza-se que seja uma adaptação óssea decorrente da prática esportiva.

Chant et al. Humeral head retroversion in competitive baseball players and its relationship to glenohumeral range of motion. J. Orthop Sports Phys Ther. 2007).


Veja a imagem abaixo com dois tipos diferentes de úmeros:

Anatomia do ombro: ângulo de torção do úmero.

Podemos ver que a orientação da parte óssea mais perto da câmera (a cabeça do úmero) é similar entre os 2, mas a parte mais afastada da câmera (a parte distal do úmero, se articula com a ulna e o rádio para formar o cotovelo) tem posições diferentes.

Isto se dá devido ao osso ser torcido.

Adicionalmente, todo ombro é dependente da coluna torácica e do gradil costal.

Uma vez que a escápula repousa sobre o gradil costal, sua posição no espaço irá mudar quando o gradil costal se move. Se a coluna torácica está flexionada a posição da escápula muda, o que leva a uma mudança da cavidade glenóide e do acrômio no espaço, limitando a mobilidade do ombro acima da cabeça.

O acrômio está diretamente ligado a levantar o braço acima da cabeça, então vamos analisá-lo um pouco mais a fundo.

 

Acrômio

Classicamente existem 3 tipos de acrômio:

  • Tipo I.
  • Tipo II.
  • Tipo III.

Tipos de acrômio.

Essa imagem mostra uma representação artística dos 3 tipos que em geral se encontra. Baseado nisso, o Tipo 1 permite a maior mobilidade do braço acima da cabeça enquanto o do Tipo 3 a menor, baseado na estrutura óssea.

Mas ilustrações como essas não nos mostram realmente as variações tão bem quanto fotos reais dos ossos. Vejamos algumas fotos reais, cortesia de Paul Grilley, mostrando algumas diferenças anatômicas e suas implicações na mobilidade do ombro.

Na foto abaixo, podemos ver duas escápulas diferentes (vistas de frente). Se pode observar que na escápula da direita o acrômio se estende mais lateralmente sobre a cavidade glenóide (N.T: Criando uma maior cobertura, como um teto, que muito provavelmente irá limitar mais o movimento do braço acima da cabeça), na da esquerda nem tanto.

Adicionalmente, podemos ver que existe uma diferença no ângulo do processo coracóide (N.T: O processo coracóide da escapula da esquerda tem um posicionamento mais horizontal, enquanto que o da escápula à direita é mais inclinado).

Anatomia do ombro: Tipos de escápula - Diferenças no processo coracóide.

A próxima foto mostra uma visão lateral de duas escápulas esquerdas, podemos notar que a escápula da esquerda irá permitir uma maior mobilidade do que a da direita devido à cobertura do acrômio. Isso não será modificado com alongamentos.

Anatomia do ombro: Tipos de escápulas - cobertura do acrômio.

Na próxima foto vemos duas escápulas direitas por trás, se pode notar a diferença dramática na anatomia óssea entre as duas.

Qual acha que limitaria a mobilidade do braço acima da cabeça?

Baseado nas fotos parece que há menos cobertura acima da cavidade glenóide na escápula da direita, o que levaria a uma flexão do ombro facilitada sob a perspectiva anatômica.

Anatomia do ombro: Tipos de escápula direita - diferenças na cobertura.

Na próxima foto, duas escápulas direitas vistas por trás em um ângulo ligeiramente oblíquo, se pode ver a diferença na cobertura da fossa glenóide pelo acrômio. Existe uma cobertura maior na da direita em comparação com a da esquerda, significando que a pessoa na esquerda seria anatomicamente capaz de conseguir uma amplitude de movimento maior do braço acima da cabeça.

Anatomia do ombro: Tipos de escápula - diferença na cobertura da fossa glenóide pelo acrômio.

A seguir uma incrível foto de três escápulas diferentes, mostrando a visão lateral da escápula direita. Podemos notar a variação não somente da orientação da cavidade glenóide, mas também, da cobertura do acrômio.

O ombro da esquerda tem a maior mobilidade acima da cabeça, o do meio a segunda melhor, e o da direita a mais limitada.

Anatomia do ombro: Tipos de orientação da cavidade glenóide e do acrômio.

Como se pode ver pela variação anatômica nessas fotos, é irrealista pensar que todos serão capazes de ter a mesma mobilidade do ombro. O hardware é diferente. Maximize a amplitude de movimento que você tem disponível.

Quando a amplitude de movimento do ombro é limitada, uma estratégia comum é finalizar os levantamentos com peso acima da cabeça reposicionando as escápulas no espaço.
Vejamos como as pessoas fazem isso.

 

Reposicionando a Escápula

Mover a escápula no espaço não muda a amplitude de movimento do ombro. O que muda é onde no espaço a amplitude de movimento está ocorrendo.

O que significa “Mover a escápula no espaço”?

Para entender o que isto significa vejamos alguns exemplos.

 

Primeiro, a inclinação da escápula.

Na primeira figura podemos ver a escápula de lado. A linha verde ilustra genericamente onde a amplitude de movimento se dá no espaço.

Na esquerda é mostrada a escápula na posição em que ela fica normalmente quando se está de pé. Na direita a escápula está inclinada anteriormente, que é a maneira como ela se move quando se está arredondando as costas. Quando o tórax está arredondado as escápulas inclinam, limitando a amplitude de movimento do braço acima da cabeça.

Ângulo de inclinação escapular.

(N.T: A representação desse tipo de postura está abaixo).

Postura normal x postura desleixada.Um método comum que as pessoas usam para inclinar as escápulas a fim de conseguirem mais amplitude de movimento é fazer uma extensão na coluna lombar. Essa não é uma maneira desejável de fazer isso, é uma compensação e deveria ser evitada. Se inclinar para trás através da coluna lombar irá mover a cintura escapular no espaço, mas não deveríamos usá-la para fazer isto.

Compensação da falta de mobilidade de ombro: Extensão lombar.

Segundo, como a cintura escapular se move para a mobilidade do braço acima da cabeça, deslizando sobre o gradil costal e fazendo uma rotação superior.

Quando se levanta o braço acima da cabeça, o ideal é que a cintura escapular se mova de modo a orientar a cavidade glenóide para cima para auxiliar no posicionamento.

A figura da esquerda mostra a posição normal de repouso da escápula. A figura da direita mostra a rotação superior (o que ocorre normalmente quando se levanta o braço). Podemos ver que ao se mover desta forma a cavidade glenóide aponta para cima, permitindo que o movimento da articulação do ombro se expresse em uma área diferente do espaço.

Rotação superior da escápula.

Mover a escápula dessa maneira ao levantar o braço é normal e desejável. O que nos leva ao maior desafio. O maior desafio O maior desafio no que diz respeito a essas informações é saber o que fazer.

Regra Geral:

Trabalhar em melhorar a mobilidade e a técnica antes de culpar a anatomia, mas respeitá-la e saber que existem diferenças.

 

Como Trabalhar a Mobilidade

Primeiro, nós temos um programa de mobilidade do ombro que você pode usar. Temos uma amostra grátis que se pode baixar se serve para você (N.T: No link do artigo original em inglês ao final da página).

 

Trabalhando nos músculos.

As principais limitações musculares quanto se trata da mobilidade do ombro são: Peitorais, latíssimo do dorso e redondo maior.

Temos vídeos detalhados e posts em como trabalhar em cada um. Os posts estão abaixo:

 

Trabalhar na Coluna Torácica

Melhorar a mobilidade na coluna torácica irá ajudar na mobilidade do ombro. Fizemos uma postagem detalhada sobre isto que pode ser usada para ajudar (N.T: The Best Thoracic Mobility Routine).

 

Trabalhar no Movimento da Cintura Escapular

Melhorar a capacidade de mover as escápulas corretamente irá ajudar com a mobilidade do ombro. Temos um vídeo e um post detalhado que pode ajudar (N.T: Cuing Overhead Mobility).

 

Como Modificar Levantamentos de Peso Acima da Cabeça se Houver Dor

Talvez você esteja lendo este artigo em virtude de ter dor no ombro quando levanta pesos ou faz exercícios. Se sim, existem muitas formas de se manter ativo e modificar seus exercícios para se livrar dela.

Abaixo uma lista de links com vídeos e artigos detalhados que podem ajudar:

 

Resumo

Nem todas limitações na mobilidade de ombros serão resolvidas com alongamentos. Algumas são devido à diferenças anatômicas. Não culpe a anatomia, maximize o que o corpo é capaz de fazer, mas entenda que estas diferenças existem.

Treinar com dor nunca é boa ideia, modifique sessões de exercícios para que sejam livres de dor a fim de poder manter o corpo forte e saudável por toda a vida.

 


Artigo original: Why Shoulders HAVE to Move Differently. 

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