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Trabalhando os Adutores

Por Marcus Lima em 09 de agosto de 2014

Um bom artigo do Patrick Ward falando sobre o tratamento dos adutores. Foi originalmente publicado no ótimo site StrengthCoach.com, que é um site pago do preparador físico de Boston Mike Boyle (já bem conhecido em nosso meio). Ward é um preparador físico e massoterapeuta do Arizona, já vi muitos bons materiais dele e inclusive traduzi um ou outro artigo no blog Limatreinamento.

O Patrick traz um ângulo um pouco diferente, mais voltado ao auto-tratamento manual, o que não é muito usual, ao menos para nós professores de Educação Física, dando uma orientação detalhada de como encontrar e tratar as estruturas da região adutora.

 

 

Trabalhando os Adutores

Patrick Ward

 

Os adutores são músculos muito importantes e parece que com todas estas Sports Hernias acontecendo hoje em dia, clínicos e preparadores físicos parecem estar prestando mais atenção a eles. Isto é especialmente verdade, após alguns dos artigos que Mike Boyle tem escrito em relação a estiramentos dos adutores (estiramento da virilha), preparação física para hóquei e Sports Hernia.

(N.T: Deixei o termo original, pois não há tradução para o português do termo Sports Hernia, inclusive muitos radiologistas o usam aqui no Brasil. Segundo o que apurei em leituras e consultas com os amigos especialistas na área, o termo que mais se aproximaria seria hérnia inguinal/hérnia por esforço da parede abdominal. Embora alguns as vezes incluam a pubalgia nessa definição, aumentando a confusão).

Para a maioria dos clínicos (fisioterapeutas, quiropratas, etc) ou massoterapeutas, esta pode ser uma área bem sensível quando se trata de um trabalho nos tecidos moles. Eu compararia a trabalhar na parte anterior do pescoço – em virtude do fato que se precisa deslocar o hióide e a cartilagem tireóide com uma mão enquanto trabalha com a outra mão nos músculos longo do pescoço e longo da cabeça – já que é uma área muito desconfortável de se trabalhar. No entanto, não importa quão desconfortável seja, existem vezes que este trabalho necessita ser feito.

Mas, e se você não tem acesso a um terapeuta? E se for um preparador físico e não pode prover seus atletas ou clientes com tratamento manual? E se for um clínico ou massoterapeuta e não se sente confortável trabalhando nessa área? (em minha opinião isso precisa ser superado).

Abaixo algumas estratégias que podem ser usadas ou ensinadas aos atletas/clientes para que possam fazer seu trabalho de tecidos moles nos adutores.

 

Anatomia dos Adutores

Ação:

O grupo adutor é composto de 5 músculos, todos eles inserem em vários locais ao longo da base da pelve. Quando falamos a respeito da sua função, as coisas podem se complicar um pouco. Isto porque os adutores se aproximam do quadril de ângulos e orientações diferentes, criando várias linhas de força. Portanto, os adutores podem produzir movimento no quadril em todos os planos de movimento.

  • No plano frontal, os músculos adutores contribuem para a adução do quadril.
  • No plano transverso, os adutores produzem rotação interna do fêmur.
  • Finalmente, no plano sagital, a posição do quadril irá ditar o que os músculos farão – flexão ou extensão do quadril. Quando os quadris estão perto da flexão completa, eles estarão em uma melhor posição para contribuir na extensão do quadril, quando os quadris estão próximos a extensão plena, eles estão numa melhor posição para contribuir para a flexão do quadril.

Foto retirada do Livro: Cinesiologia do Aparelho Musculoesquelético – Fundamentos para a Reabilitação Física 2ª ed. (Neumann, 2011).

 

Tratamento dos adutores: Localização anatômica do complexo adutor.

No entanto, independente da posição do quadril, as fibras posteriores do adutor magno, junto com o glúteo máximo e os músculos isquiotibiais, serão sempre poderosos extensores do quadril.

 

Inserções:

Pectíneo Do ramo púbico superior, até a linha pectínea na face posterior do fêmur.

Adutor Curto Do ramo púbico inferior, até a borda medial da linha áspera do fêmur.

Grácil Do ramo púbico inferior e dos ramos do ísquio, até o tendão da pata de ganso na face medial proximal da tíbia.

Tratamento dos adutores: Localização anatômica do pectíneo, adutor curto e grácil.

Adutor Longo Do tubérculo púbico, até o terço médio da linha áspera do fêmur.

Adutor Magno Do ramo inferior do púbis, ramo do ísquio (fibras anteriores) e tuberosidade isquiática (fibras posteriores), até   toda a parte medial da linha áspera do fêmur e o tubérculo adutor –  a lacuna entre os dois pontos de inserção no fêmur é chamado de hiato do adutor (N.T: Do original em inglês Adductor hiatus).

Tratamento dos adutores: Localização anatômica do adutor magno e longo.

 

Auto-tratamento dos Adutores

Antes de alguém ir metendo a mão nos adutores, precisamos entender que esta não é somente uma área muito sensível (a maioria das pessoas não tolera uma tonelada de pressão na área) e que abriga algumas estruturas muito importantes que você não gostaria que fossem amassadas e esmagadas.

O triângulo femoral, consiste do ligamento inguinal, os músculos sartório e adutor longo. Dentro deste triângulo fica a artéria femoral, o nervo femoral e os linfonodos inguinais. Obviamente, esta não é uma área que alguém gostaria que enfiassem os dedos!

Tratamento dos adutores: Triângulo femoral, área a ser ter cuidado

Nervo Femoral Esquerdo e Estruturas Adjacentes (Nota: Como os nomes são similares ao português não existe necessidade de tradução)

Para ter uma noção de onde se localiza esta estrutura, para que se possa abordar a área com cautela, inicie palpando a Espinha Ilíaca Ântero Superior. O ligamento inguinal corre da espinha ilíaca até o tubérculo púbico. Uma vez que seja encontrada a espinha ilíaca, simplesmente deslize medialmente cerca de 1 polegada (N.T: 2,45 cm) e ligeiramente inferior, então será capaz de sentir a pulsação da artéria femoral. As estruturas importantes estarão ao redor dessa pulsação, então se for capaz de localizar a artéria femoral, terá uma ideia de onde não trabalhar.

Adicionalmente, se a qualquer momento sentir uma pulsação durante algum trabalho manual de tecidos moles, afaste-se da área e reposicione suas mãos. Também é importante notar que você deveria tentar localizar a pulsação da femoral com qualquer dedo exceto o polegar. Uma vez que o polegar tem uma pulsação relativamente forte por si só, irá tirar sua habilidade de sentir a pulsação da artéria femoral.

Já que agora sabemos onde não trabalhar, é hora de descermos ao âmago da questão.

Os músculos adutores podem ser difíceis de isolar, no entanto com paciência e prática você deveria ser capaz de localizar e trabalhar as áreas sensíveis.

  • Inicie deitando de costas e flexionando o joelho do lado que será trabalhado. Permita a perna cair para o lado, pondo o quadril em rotação externa. Colocar a perna em flexão e rotação externa irá ajudá-lo a palpar alguns músculos, o que pode ajudar a demarcar o posicionamento e saber o que se está trabalhando. Para a palpação e tratamento, você irá usar a mão ipsilateral (a mão do mesmo lado da perna que está sendo trabalhada). Isto deixará a mão contralateral livre para fazer movimentos resistidos, para que saibamos em que músculo estamos no momento.
  • Com a perna flexionada e externamente rodada, use a mão ipsilateral para localizar a espinha ilíaca ântero superior. Coloque a sua mão oposta no topo da sua coxa e faça uma flexão do quadril suave contra a mão (não precisa forçar muito). Isso irá ressaltar o sartório e lhe dar um marco lateral do triângulo femoral. Se você deslizar um pouco abaixo da espinha ilíaca ântero superior e logo medial ao sartório, irá achar o triângulo femoral (lembre-se de sair fora de qualquer estrutura que pulse!).
  • Com a mão palpando gentilmente a área medial ao sartório, use a mão oposta e a coloque na parte medial da coxa para aplicar uma resistência à adução, aduzindo a coxa contra a mão. Isso irá ressaltar o adutor longo (a borda medial do triângulo femoral).  Você pode usar este músculo como um marco para achar os outros músculos adutores.
  • Pode iniciar tratando o ventre muscular do adutor longo com compressões e então deslizar a mão superiormente até o tubérculo do púbis e tratar o local da inserção com fricções. Quando deslizar superiormente a partir do ventre muscular, pode fazer novamente a resistência manual para confirmar se está no local certo – irá sentir o local de inserção do músculo tenso sob seus dedos. A inserção do adutor longo será bastante proeminente.
  • A partir do adutor longo, se você deslizar ligeiramente na direção lateral ao ventre muscular, irá trabalhar o ventre muscular do pectíneo e do adutor curto. Se notar na figura acima, estes 2 músculos se inserem dentro do triângulo femoral, então use a cautela para se afastar de qualquer estrutura que tenha uma pulsação. Novamente, você pode subir até o osso púbis e alcançar o local de inserção destes músculos. Para aqueles com um histórico de distensão na virilha, esta área pode ser particularmente sensível, então vá devagar a princípio.
  • Novamente usando o adutor longo como nosso guia, se localizarmos o local de inserção no osso púbico, podemos deslizar ligeiramente medial ao adutor longo e trabalhar no grácil. Fricção pode ser aplicada ao local de inserção e compressão usada sobre o ventre muscular. Como o adutor longo, a inserção do grácil será bem proeminente. O ventre muscular será mais medial do que o adutor longo e irá correr para baixo ao longo de todo o aspecto medial da coxa e inserir abaixo do joelho na tíbia, junto com o sartório e o semitendinoso no tendão da pata de ganso.
  • As inserções do adutor magno podem ser trabalhadas ao localizar as proeminentes inserções do adutor longo e do grácil. Uma vez que estão localizados, você pode deslizar a partir deles em uma direção posterior até o adutor magno. Novamente, fricção pode ser aplicada ao local de inserção (posterior às inserções mais proeminentes dos adutores e sob a tuberosidade isquiática). Uma segunda alternativa para tratar o adutor magno é sentar sobre uma bola de tênis e trabalhar o parte medial da tuberosidade isquiática (onde irá acabar trabalhando um pouco o semimembranáceo também).

 

Liberação Posicional

Se qualquer um dos músculos adutores estiver particularmente sensível, você pode achar benéfico usar uma técnica chamada liberação posicional (N.T: Do original em inglês “Positional Release” em uma tradução livre) ou as vezes referida como estiramento-contraestiramento (N.T: Do original em inglês “Strain-Couterstrain”). A fim de fazer com que esta técnica funcione, você simplesmente necessita saber o que o músculo faz e então colocá-lo na posição correta passivamente.

Primeiro, inicie localizando o local tenso de um dos adutores. O local deveria registrar de 8 a 10 na escala de dor de 10 pontos.

Tratamento dos adutores: Exemplo de escala da dor

Mantendo contato com o local (N.T: fazendo uma palpação), use a mão oposta para passivamente flexionar e aduzir o quadril até que a dor registre menos do que um 3 na escala, na maioria dos casos, a dor estará eliminada quando for alcançada a posição de liberação. Segure esta posição por mais ou menos 90 segundos.

Com a mão que está em contato com o ponto sensível (que a esta altura deveria deixar de sê-lo), você pode ou sustentar a compressão ou aplicar uma fricção circular suave ao tecido, mas sem deixar o local. Após 90 segundos, passivamente coloque o quadril de volta a posição inicial e reteste o ponto para ver se a dor/sensibilidade diminuiu (pode estar totalmente livre de dor após aplicar esta técnica). Se a dor persistir, continue sua palpação até que a próxima área tensa seja alcançada.

 

Pontos gatilho e os Músculos Adutores

Padrões de dor referida para os músculos adutores são geralmente localizados na área da virilha. A dor pode ser percebida como uma dorzinha chata, mas pode ser bem aguda também, especialmente no movimento de extensão do quadril.

Os clientes podem reclamar de uma dor profunda na articulação do quadril, e de dor na parte interna da pelve, osso púbico, vagina, reto e bexiga (locais de dor referida do adutor magno). Além disso, os adutores longo e curto tem padrões de dor referida de pontos gatilho (N.T: Em inglês: Trigger Points, nome também usado em português) que não se localizam somente na área da virilha, mas também que vão em direção à parte medial da perna, logo acima do pé.

Os pontos gatilho do adutor longo podem fazer com que o quadril se torne rígido e limite a amplitude de movimento em todas direções, com dor ocorrendo durante uma contração mais forte dos músculos da parte interna da coxa.

Localização dos pontos e padrões de dor referida do Pectíneo

Localização dos pontos e padrões de dor referida do Adutor Curto e Adutor Longo.

Localização dos pontos e padrões de dor referida do Sartório

Localização dos pontos e padrões de dor referida do Grácil

Localização dos pontos e padrões de dor referida do Adutor Magno

Conclusão

Estiramentos nos adutores podem ser um pé no saco. Alguns auto-cuidados podem ser de grande ajuda em tratar a dor miofascial ou rigidez nestes músculos, que podem se desenvolver a partir do treinamento ou competições.

Assegure-se de procurar ajuda médica se está lesionado ou acredita que está acontecendo mais do que apenas um estiramento. Se tiver problemas em localizar sozinho as estruturas citadas no texto, seja paciente! Como sempre, procure um terapeuta manual qualificado que não apenas se sente confortável fazendo este tipo de trabalho, mas que também irá lhe ensinar como fazer o dever de casa, ajudando a reforçar o trabalho que ele/ela está fazendo no consultório/clínica, aumentando o ganho terapêutico.

Antes de ensinar estas técnicas aos seus clientes/atletas, assegure-se de praticá-las em você mesmo várias vezes para ter uma ideia de como se sente e ter um entendimento de como os músculos se sentem no momento do auto-tratamento, lembre-se: Você não pode palpar um livro de anatomia! Você tem de ter sentir as estruturas antes de explicá-las a alguém.

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Referências

Beil, Andrew. Trail Guide To The Body: How to Locate Muscles, Bones and More. Books of Discovery Publishing. 3rd ed. 2005.

Neumann, Donald. Kinesiology of the Musculoskeletal System: Foundations for Physical Rehabilitation. 2002.

Davies, Clair. The Trigger Point Therapy Workbook. New Harbinger Publications Inc. 2nd ed. 2004.

Chaitow, Leon. Delany, Judith. Clinical Applications of Neuromuscular Techniques – Volume 2: The Lower Body. Elsevier. 2002.


Link do artigo original: Working the Adductors

O ebook abaixo traz a versão em pdf do artigo, com as imagens que ilustram bem como fazer o auto-tratamento.

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