Um bom artigo do Patrick Ward falando sobre o tratamento dos adutores. Foi originalmente publicado no ótimo site StrengthCoach.com, que é um site pago do preparador físico de Boston Mike Boyle (já bem conhecido em nosso meio). Ward é um preparador físico e massoterapeuta do Arizona, já vi muitos bons materiais dele e inclusive traduzi um ou outro artigo no blog Limatreinamento.
O Patrick traz um ângulo um pouco diferente, mais voltado ao auto-tratamento manual, o que não é muito usual, ao menos para nós professores de Educação Física, dando uma orientação detalhada de como encontrar e tratar as estruturas da região adutora.
Patrick Ward
Os adutores são músculos muito importantes e parece que com todas estas Sports Hernias acontecendo hoje em dia, clínicos e preparadores físicos parecem estar prestando mais atenção a eles. Isto é especialmente verdade, após alguns dos artigos que Mike Boyle tem escrito em relação a estiramentos dos adutores (estiramento da virilha), preparação física para hóquei e Sports Hernia.
(N.T: Deixei o termo original, pois não há tradução para o português do termo Sports Hernia, inclusive muitos radiologistas o usam aqui no Brasil. Segundo o que apurei em leituras e consultas com os amigos especialistas na área, o termo que mais se aproximaria seria hérnia inguinal/hérnia por esforço da parede abdominal. Embora alguns as vezes incluam a pubalgia nessa definição, aumentando a confusão).
Para a maioria dos clínicos (fisioterapeutas, quiropratas, etc) ou massoterapeutas, esta pode ser uma área bem sensível quando se trata de um trabalho nos tecidos moles. Eu compararia a trabalhar na parte anterior do pescoço – em virtude do fato que se precisa deslocar o hióide e a cartilagem tireóide com uma mão enquanto trabalha com a outra mão nos músculos longo do pescoço e longo da cabeça – já que é uma área muito desconfortável de se trabalhar. No entanto, não importa quão desconfortável seja, existem vezes que este trabalho necessita ser feito.
Mas, e se você não tem acesso a um terapeuta? E se for um preparador físico e não pode prover seus atletas ou clientes com tratamento manual? E se for um clínico ou massoterapeuta e não se sente confortável trabalhando nessa área? (em minha opinião isso precisa ser superado).
Abaixo algumas estratégias que podem ser usadas ou ensinadas aos atletas/clientes para que possam fazer seu trabalho de tecidos moles nos adutores.
O grupo adutor é composto de 5 músculos, todos eles inserem em vários locais ao longo da base da pelve. Quando falamos a respeito da sua função, as coisas podem se complicar um pouco. Isto porque os adutores se aproximam do quadril de ângulos e orientações diferentes, criando várias linhas de força. Portanto, os adutores podem produzir movimento no quadril em todos os planos de movimento.
No entanto, independente da posição do quadril, as fibras posteriores do adutor magno, junto com o glúteo máximo e os músculos isquiotibiais, serão sempre poderosos extensores do quadril.
Pectíneo – Do ramo púbico superior, até a linha pectínea na face posterior do fêmur.
Adutor Curto – Do ramo púbico inferior, até a borda medial da linha áspera do fêmur.
Grácil – Do ramo púbico inferior e dos ramos do ísquio, até o tendão da pata de ganso na face medial proximal da tíbia.
Adutor Longo – Do tubérculo púbico, até o terço médio da linha áspera do fêmur.
Adutor Magno – Do ramo inferior do púbis, ramo do ísquio (fibras anteriores) e tuberosidade isquiática (fibras posteriores), até toda a parte medial da linha áspera do fêmur e o tubérculo adutor – a lacuna entre os dois pontos de inserção no fêmur é chamado de hiato do adutor (N.T: Do original em inglês Adductor hiatus).
Antes de alguém ir metendo a mão nos adutores, precisamos entender que esta não é somente uma área muito sensível (a maioria das pessoas não tolera uma tonelada de pressão na área) e que abriga algumas estruturas muito importantes que você não gostaria que fossem amassadas e esmagadas.
O triângulo femoral, consiste do ligamento inguinal, os músculos sartório e adutor longo. Dentro deste triângulo fica a artéria femoral, o nervo femoral e os linfonodos inguinais. Obviamente, esta não é uma área que alguém gostaria que enfiassem os dedos!
Para ter uma noção de onde se localiza esta estrutura, para que se possa abordar a área com cautela, inicie palpando a Espinha Ilíaca Ântero Superior. O ligamento inguinal corre da espinha ilíaca até o tubérculo púbico. Uma vez que seja encontrada a espinha ilíaca, simplesmente deslize medialmente cerca de 1 polegada (N.T: 2,45 cm) e ligeiramente inferior, então será capaz de sentir a pulsação da artéria femoral. As estruturas importantes estarão ao redor dessa pulsação, então se for capaz de localizar a artéria femoral, terá uma ideia de onde não trabalhar.
Adicionalmente, se a qualquer momento sentir uma pulsação durante algum trabalho manual de tecidos moles, afaste-se da área e reposicione suas mãos. Também é importante notar que você deveria tentar localizar a pulsação da femoral com qualquer dedo exceto o polegar. Uma vez que o polegar tem uma pulsação relativamente forte por si só, irá tirar sua habilidade de sentir a pulsação da artéria femoral.
Já que agora sabemos onde não trabalhar, é hora de descermos ao âmago da questão.
Os músculos adutores podem ser difíceis de isolar, no entanto com paciência e prática você deveria ser capaz de localizar e trabalhar as áreas sensíveis.
Se qualquer um dos músculos adutores estiver particularmente sensível, você pode achar benéfico usar uma técnica chamada liberação posicional (N.T: Do original em inglês “Positional Release” em uma tradução livre) ou as vezes referida como estiramento-contraestiramento (N.T: Do original em inglês “Strain-Couterstrain”). A fim de fazer com que esta técnica funcione, você simplesmente necessita saber o que o músculo faz e então colocá-lo na posição correta passivamente.
Primeiro, inicie localizando o local tenso de um dos adutores. O local deveria registrar de 8 a 10 na escala de dor de 10 pontos.
Mantendo contato com o local (N.T: fazendo uma palpação), use a mão oposta para passivamente flexionar e aduzir o quadril até que a dor registre menos do que um 3 na escala, na maioria dos casos, a dor estará eliminada quando for alcançada a posição de liberação. Segure esta posição por mais ou menos 90 segundos.
Com a mão que está em contato com o ponto sensível (que a esta altura deveria deixar de sê-lo), você pode ou sustentar a compressão ou aplicar uma fricção circular suave ao tecido, mas sem deixar o local. Após 90 segundos, passivamente coloque o quadril de volta a posição inicial e reteste o ponto para ver se a dor/sensibilidade diminuiu (pode estar totalmente livre de dor após aplicar esta técnica). Se a dor persistir, continue sua palpação até que a próxima área tensa seja alcançada.
Padrões de dor referida para os músculos adutores são geralmente localizados na área da virilha. A dor pode ser percebida como uma dorzinha chata, mas pode ser bem aguda também, especialmente no movimento de extensão do quadril.
Os clientes podem reclamar de uma dor profunda na articulação do quadril, e de dor na parte interna da pelve, osso púbico, vagina, reto e bexiga (locais de dor referida do adutor magno). Além disso, os adutores longo e curto tem padrões de dor referida de pontos gatilho (N.T: Em inglês: Trigger Points, nome também usado em português) que não se localizam somente na área da virilha, mas também que vão em direção à parte medial da perna, logo acima do pé.
Os pontos gatilho do adutor longo podem fazer com que o quadril se torne rígido e limite a amplitude de movimento em todas direções, com dor ocorrendo durante uma contração mais forte dos músculos da parte interna da coxa.
Localização dos pontos e padrões de dor referida do Pectíneo
Localização dos pontos e padrões de dor referida do Adutor Curto e Adutor Longo.
Localização dos pontos e padrões de dor referida do Sartório
Localização dos pontos e padrões de dor referida do Grácil
Localização dos pontos e padrões de dor referida do Adutor Magno
Estiramentos nos adutores podem ser um pé no saco. Alguns auto-cuidados podem ser de grande ajuda em tratar a dor miofascial ou rigidez nestes músculos, que podem se desenvolver a partir do treinamento ou competições.
Assegure-se de procurar ajuda médica se está lesionado ou acredita que está acontecendo mais do que apenas um estiramento. Se tiver problemas em localizar sozinho as estruturas citadas no texto, seja paciente! Como sempre, procure um terapeuta manual qualificado que não apenas se sente confortável fazendo este tipo de trabalho, mas que também irá lhe ensinar como fazer o dever de casa, ajudando a reforçar o trabalho que ele/ela está fazendo no consultório/clínica, aumentando o ganho terapêutico.
Antes de ensinar estas técnicas aos seus clientes/atletas, assegure-se de praticá-las em você mesmo várias vezes para ter uma ideia de como se sente e ter um entendimento de como os músculos se sentem no momento do auto-tratamento, lembre-se: Você não pode palpar um livro de anatomia! Você tem de ter sentir as estruturas antes de explicá-las a alguém.
Beil, Andrew. Trail Guide To The Body: How to Locate Muscles, Bones and More. Books of Discovery Publishing. 3rd ed. 2005.
Neumann, Donald. Kinesiology of the Musculoskeletal System: Foundations for Physical Rehabilitation. 2002.
Davies, Clair. The Trigger Point Therapy Workbook. New Harbinger Publications Inc. 2nd ed. 2004.
Chaitow, Leon. Delany, Judith. Clinical Applications of Neuromuscular Techniques – Volume 2: The Lower Body. Elsevier. 2002.
Link do artigo original: Working the Adductors
O ebook abaixo traz a versão em pdf do artigo, com as imagens que ilustram bem como fazer o auto-tratamento.
Ley Silva Jorginho Gonçalves