Continuando o artigo sobre Capacidade de Trabalho, esta segunda parte é um pouco mais pesada, nunca é tão simples assim lidar com definições, especialmente vindas dos russos. Mas creio que se trata de uma perspectiva interessante e um olhar mais abrangente sobre o tema que o Pavel começou a desenvolver na primeira parte.
Leiam e tirem suas conclusões.
Aos que não leram a primeira parte: O que é “Capacidade de Trabalho”? – Parte 1.
O termo original russo, rabotosposobnost, se traduz literalmente como: “Work Ability” (N.T: “Habilidade de trabalho”). Uma melhor tradução seria: “Potencial de produtividade”.
Mas alguém criativamente traduziu o termo russo para o inglês como “Work Capacity” (N.T: “Capacidade de trabalho”), o que instantaneamente mudou seu significado. A palavra “capacidade” implica no tamanho do tanque de combustível, como “capacidade alática” ou “capacidade aeróbica”. O termo russo, embora inclua o termo “capacidade”, significa muito mais.
Mesmo na antiga União Soviética, existem muitas definições conflitantes sobre o termo potencial de produtividade. Vou poupá-los de uma discussão longa e apresentar uma definição que muitos especialistas russos concordariam:
“Potencial de produtividade é a habilidade de alguém cumprir um determinado trabalho com o mínimo custo biológico e os maiores resultados” (1).
“Potencial de produtividade é um processo complexo que depende da integração e interação de diferentes sistemas e órgãos em diferentes níveis de organização: Bioquímico, genético e social” (2). O potencial de produtividade é determinado por uma gama de fatores fisiológicos e psicológicos: Genética; Gênero; Massa corporal; Idade; Estado de saúde; Capacidade, potência e eficiência dos sistemas energéticos; O estado do aparato neuromuscular; Estado fisiológico; Motivação; Condições de trabalho, etc. (2).
Como se pode ver, os sistemas energéticos são somente uma das muitas variáveis do significado de Potencial de Produtividade.
Potencial de Produtividade deveria ser avaliado de acordo com o critério da especificidade da ocupação ou esporte de alguém (3). O critério indireto de Potencial de Produtividade inclui vários marcadores biológicos como frequência cardíaca e pressão arterial, que descreve a reação do organismo à carga e o custo decorrido de realizar o trabalho (3).
Potencial de Produtividade tem 3 fases: Aumento de produtividade, alta produtividade estável e aumento da fadiga.
A primeira fase pode ser entendida como um aquecimento. Dependendo do indivíduo e da natureza do esforço, isso pode durar de alguns minutos até 1h e 30 min.
Na segunda fase, o indivíduo se encontra em velocidade de cruzeiro (N.T: Um estado estável digamos assim).
Quanto à terceira fase, fadiga é a reação de defesa do organismo, visando baixar a produção de vários sistemas para prevenir consequências negativas à saúde.
Se olharmos para a dinâmica de produtividade durante um dia de trabalho, veremos que após o almoço a primeira fase é mais curta do que pela manhã, mas a segunda fase não alcança um pico tão grande e não dura tanto quanto de manhã. A terceira fase é previsivelmente mais pronunciada ao final do dia. Isto se aplica tanto ao trabalho físico quanto mental.
O bioritmo afeta o potencial de produtividade e deveria ser considerado no planejamento (4). A mais alta produtividade é exibida quando alguém trabalha ou treina em sincronia com seu ritmo biológico. 41% das pessoas são mais produtivas de manhã, 30% ao final da tarde ou até à noite, e 29% são igualmente produtivas a qualquer momento em que estão acordadas (5). Se quiser saber mais, o Dr. Craig Marker, certificado StrongFirst nível II, recomenda um artigo interessante em inglês (13).
Aqui está a dinâmica mais típica do potencial de produtividade em um período de 24h:
A força muscular está 20-30% mais baixa após o sono e leva de 3-5 horas para alcançar o seu pico. Ela diminui novamente por volta de 13h (6). O primeiro pico é por volta de 9h (baseado em alguém que acordou as 6h), o segundo pico é alcançado por volta de 18h (7).
Ainda que se possa treinar para alcançar o potencial de produtividade mais alto em um horário favorável (8).
“O potencial de produtividade máximo é um estereótipo dinâmico e estereótipos dinâmicos podem mudar. Isto significa que se o horário mais conveniente para o treinamento de alguém não está no horário “ótimo de treinamento” (N.T: Mostrado nos gráficos e mencionados anteriormente), o organismo irá gradualmente (digamos que no período de 1 mês) mover o pico de potencial de produtividade para aquele horário escolhido para treinar. A coisa mais importante é não trocar tão frequentemente de horário, caso contrário o estereótipo dinâmico não será reforçado e o indivíduo irá constantemente sentir desconforto (9).”
Muitos fenômenos cíclicos são fractais, isto é, se repetem em períodos de tempo de diferentes comprimentos. Quando se trata de um ciclo semanal, especialistas em levantamento de peso olímpico da Ex-União Soviética descobriram décadas atrás que o pico de capacidade de trabalho caia não na segunda, mas na quarta-feira (10).
Os russos também distinguem entre potencial de produtividade mensal, anual e plurianual (N.T: Refletindo a necessidade patológica russa de fazer planejamentos com anos de antecedência, o que para muitos parece ser algo positivo, mas talvez não seja já que muitos desses planejamentos plurianuais, senão todos, soviéticos foram um completo fracasso).
O pico do potencial de produtividade alcança seu pico no fim do verão-começo do outono, e tem seu nível mais baixo no inverno (11).
Note a influência climática, em climas moderados (pelos padrões russos) a queda no potencial de produtividade durante o inverno é de 4-8%, na Sibéria é de 17%. Pesquisadores da Ex-União Soviética, estabeleceram ainda, que férias de algumas semanas são uma necessidade uma vez ao ano, já que as noites e finais de semana de folga não apagam o efeito cumulativo da fadiga de meses de trabalho. O que pode ser visto como preguiça européia, é na verdade um pré-requisito para maximizar a capacidade de trabalho através do ano.
Uma vez que “Potencial de Produtividade” significa muito mais que sistemas energéticos, você pode e deve fazer muito mais para melhorar o seu. Os russos desenvolveram várias medidas para manter, aumentar e restaurar o potencial de produtividade (3):
Resumindo, para maximizar seu potencial de produtividade você precisa, além de treinar certo, fazer o que quer que seja para se tornar feliz e saudável.
Referências:
Aos que quiserem ler na versão original, aí vai o link: What is “Work Capacity”? – Part 2.