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Controle Motor

Por Marcus Lima em 23 de agosto de 2015

Artigo do Gray Cook falando sobre o controle motor, e de como problemas que a primeira vista aparentam ser rigidez ou encurtamento muscular são na verdade falta de controle. Da mesma forma o que muitos veem como fraqueza muscular pode ser um comando defeituoso que influencia um músculo ou grupo de músculos, fazendo com que sua conexão neurológica não seja a ideal.

Boa leitura a todos.

 

Tudo é uma Questão de Controle Motor

Gray Cook

 

Um componente essencial do controle motor é o tônus muscular e quero discutir especificamente o tônus muscular inapropriado.

Frequentemente, sob a perspectiva da fisioterapia e da reabilitação, não necessariamente vemos apenas rigidez ou fraqueza muscular.

Frequentemente, rigidez é a forma do corpo usar freios na ausência de sistemas de freio reais e autênticos. O sistema de freio que o corpo tem chama-se controle motor, e é muito bem afinado para lidar com:
→ Entrada de informações (N.T: Do inglês: input. Refere-se a informações sensoriais).
→ Processamento das informações.
→ Saída apropriada de informações (N.T: Do inglês: output. Refere-se a resposta motora).

Quando um erro está presente em algum lugar do sistema – seja no movimento, coordenação, sincronia e simetria — uma disfunção é observável.

O corpo é configurado para a sobrevivência em uma situação onde o sistema operacional original está comprometido, ele simplesmente cria um sistema de freios — que diminui nosso ritmo e nos mantém longe de problemas.

Esse sistema de freios é como um sistema de segurança, acionado na presença de fadiga, lesões, proteção de outras estruturas e uma maneira de evitar a dor. Com isso, você até pode ter o controle melhorado, mas também desperdiça energia e perde eficiência.

A questão da fraqueza permanece evidente. Frequentemente é uma questão de falta de condicionamento físico; quando diz respeito ao corpo todo e não a uma parte isolada, isso é facilmente consertado ao levantar a bunda do sofá e se mexer….e se mexer um pouco mais no dia seguinte. No entanto, uma fraqueza isolada raramente é apenas fraqueza.

Park – estacionar / Stop – parar

Inibição isolada de um único músculo ou grupo de músculos é melhor diagnosticada na reabilitação como um problema neurológico ou deficiência resultante de lesão, doença ou disfunção.  O termo inibição que citei, diz respeito à inabilidade de um músculo em responder a um comando em um nível apropriado de tônus para executar uma postura ou um padrão. Nosso problema é quando simplesmente discutimos rigidez/encurtamento ou fraqueza de um músculo, podemos cavar fundo pensando que é um problema muscular, mas, frequentemente, é um problema de comando.

Se existir um enrijecimento de tecido, de qualquer tipo, desde fáscia profunda até cicatrizes superficiais ou tecido cicatricial de uma lesão prévia, será dado um comando aos músculos para que enrijeçam prematuramente, ou até que mantenham uma quantidade significativa de tônus de repouso, simplesmente para proteger o sistema.

Esta rigidez também pode ser preservada, não a partir de um sinal de outros tecidos, pode ser herança de uma lesão prévia que já foi resolvida. Mas o músculo mantém o tônus elevado mesmo assim, como se não tivesse sido avisado que a lesão já foi resolvida.

Imagine uma criança que quebrou um osso da perna, passou pelo processo de fisioterapia muito bem com amplitude total de movimento, força muscular adequada e até mesmo um bom desempenho na análise de movimento (N.T: “Análise de movimento” refere-se ao FMS: Functional Movement Screen), ainda assim, continua a mancar quando caminha rápido ou corre.

Por quê? Porque é um hábito. A entrada de informações (N.T: Input) está correta, mas agora o estilo de vida habitual foi sobrecarregado com dor, e a reabilitação criou o mancar, que na verdade é um problema em si. Apareceu um novo padrão disfuncional.

O mancar é funcional logo em seguida a uma lesão, porque tira a descarga de peso do membro e mantém algum grau de mobilidade. Ele se torna disfuncional quando não existe mais razão para a descarga de peso reduzida – quando o problema que causou esse mancar já foi resolvido.

A lesão que fazia com que ela mancasse se foi, ainda que o mancar continue — este é um problema de processamento de informações. Uma entrada de informações inapropriada, vinda de rigidez desnecessária, mobilidade articular ou falta de extensibilidade dos tecidos, pode ocasionar um aumento do tônus como forma de proteção, que vemos como rigidez. Mesmo quando estas compensações se foram, o hábito de proteção pode permanecer.

A melhor maneira de lidar com um tônus aumentado quando a flexibilidade e mobilidade estão em questão é olhar para o padrão. Dentro do padrão está a resposta. Isso nos mostra todas as outras questões que não estamos vendo e que podem estar causando os problemas de flexibilidade e mobilidade.

Da mesma forma, a fraqueza que desafiamos com treino de força e rotinas de exercícios, cargas e desenvolvimento de padrões de movimento, pode frequentemente ser inibição. Inibição não se reseta sozinha muito bem. Quando temos a chance de resetar nosso próprio sistema ou compensar, nós frequentemente compensamos.

Exercício corretivo é uma metodologia que entende a necessidade biológica de compensar e remove a oportunidade de compensação, usualmente ao explorar regressões de padrões de movimento. Ao invés de fazer tudo em uma posição funcional de pé, retornamos a padrões e posturas que nos levaram a ficar de pé pela primeira vez — rolar, rastejar, quatro apoios, base ajoelhada. Adicionamos ação nesses padrões e posturas para demonstrar que cada nível (N.T: De padrões e posturas) suporta a progressão para o próximo nível.

Estes padrões podem na realidade aumentar o problema antes que possamos ficar em pé, onde compensação é nossa única oportunidade. Podemos frequentemente medir problemas de flexibilidade localmente e até mesmo medir problemas de força muscular localmente, mas em última análise, precisamos entender que existe um sistema de controle motor dirigindo isso.

Este sistema de controle motor está lidando com entrada, processamento e saída de informações. Acredite ou não, a forma mais fácil de checar esse sistema é olhar para a saída de informações (N.T: Significando que devemos observar a resposta motora, ou seja, como o indivíduo está desempenhando os movimentos). Se o padrão de movimento está em um aceitável nível de qualidade, comece a colocar sobrecarga e estresse o padrão para desvendar os recursos físicos disponíveis para este padrão em particular, sua forma e postura.

Se o padrão de movimento está quebrado, precisamos cavar fundo e dissecar o entendimento deste padrão. Existe um problema de mobilidade direcionando uma entrada de informações ruim? Ou um problema de processamento distribuindo estabilidade e controle motor ruins?

Podemos encontrar, tratar e corrigir estes problemas. Podemos administrar estes problemas, não ao nos fixarmos nos músculos, mas analisando os padrões (ou a falta deles) que direcionam o tônus muscular inapropriado. Lembre-se, rigidez e fraqueza representam o mesmo problema, apenas em lados opostos do espectro.

Um tônus muscular excessivo parece, na superfície, pouca mobilidade e precisa ser administrado. Existe algo direcionando isso ou simplesmente é um hábito que está preso no disco rígido e precisa ser excluído?

Essa fraqueza é na realidade algo que precisa somente de séries e repetições, ou é uma fraqueza comandada por uma mobilidade inapropriada, falta de controle motor ou um padrão ineficiente causando compensação?

A compensação é devido à falta de mobilidade ou controle motor em algum lugar no corpo, e que não foi detectada por anos a fio, ou é simplesmente o disco rígido que apenas precisa ser limpo?

Para encontrar facilmente esses problemas, precisamos de sistemas. Mas enquanto insistirmos em falar a respeito de rigidez muscular local ou fraqueza de um músculo, iremos nos perder. Já foi dito muitas vezes que apontar um dedo para a lua tem a função de mostrar a lua….a maioria das pessoas vê apenas o dedo.

Um tônus muscular inapropriado é um símbolo que representa desarmonia no sistema. A desarmonia pode ser devido:
– Defeito na entrada de informações, mas que são processadas apropriadamente, OU; 
– Entrada de informações apropriada, mas que é processada de maneira defeituosa.

Precisamos abordar isso de uma maneira sistemática para que possamos encontrar o que está causando problemas, porque a causa nem sempre está clara. A resposta clichê é que entrada inapropriada de informações e processamento inapropriado são as causas prováveis em todas situações.

Isso pode ser verdade até certo ponto, mas aí seus pontos de ação estão espalhados e você não possui um retorno de informações (N.T: Do inglês feedback).

Se, por outro lado, você supõe que a falta de controle motor de alguém é causada por uma falta de mobilidade no tornozelo, você pode resolver a questão facilmente. Crie um pouco mais de mobilidade no tornozelo e reavalie o controle motor (N.T: O exercício abaixo é um dos que o autor emprega para mobilidade do tornozelo).

Se o problema de mobilidade no tornozelo estiver criando uma entrada defeituosa de informações e influenciando o controle motor defeituoso e fraqueza geral no quadril, então você tem a sua resposta. Se não for isso, você tem sua resposta.
Este raciocínio dedutivo, é o “código fonte” por trás do Functional Movement Systems (N.T: Deixei em inglês por ser o nome da empresa do Gray Cook, mas poderia ser traduzido mais ou menos como: Sistemas de Movimento Funcional).

Se você quiser saber se é um problema de mobilidade ou de controle motor, faça o teste. Por isso que construímos isso — para nós (N.T: Se refere às ferramentas de avaliação da empresa, o FMS e o SFMA: Selective Functional Movement Assessments. Esta ferramenta é direcionada ao pessoal da área clínica e tem a função de diagnosticar problemas).

Nós tínhamos as mesmas questões e não conseguíamos decifrar um sistema rígido com respostas lógicas. Não tínhamos a intenção inicial de desenvolver uma análise (N.T: De novo referindo-se ao FMS) ou um sistema…..estávamos apenas procurando uma vantagem competitiva. Se você quer descobrir o que está comandando o tônus inapropriado, temos algumas avaliações que farão isso muito bem. Se quiser medir o controle motor com uma grande eficiência e com um teste funcional, temos isso também.

Tentamos abraçar a métrica do movimento de maneira a ajudar quem tem um ciclo de retorno de informação de rigidez (N.T: Ou seja, a informação que é recebida é a de manter o sistema, ou parte dele, rígido como proteção. Enquanto o ciclo não for quebrado, ou seja, ao encontrarmos a causa dessa rigidez, o ciclo se auto-perpetua) — para saber se precisa colocar o foco em exercícios individuais de correção ou modificações no programa de treinos.

A qualquer momento, um desses movimentos irá fazer a grande diferença. O entendimento de um sistema biológico que está quebrado, o organismo ou o ambiente, é o marco da boa ciência, e rastrear o comportamento do movimento é onde esse processo se inicia no exercício e na reabilitação.

Nós somos “Sistemas de Movimento Funcional” (N.T: Functional Movement Systems). Não somos uma empresa de exercício.

Oferecemos melhores ferramentas para olhar para o movimento e criar um retorno de informações para os indivíduos que dependem de você para a sua programação de exercício, reabilitação e treinamento especializado de performance. É verdade que a análise, teste e avaliação do movimento toma tempo. Sem desculpas nisso, todos nós temos que levar mais tempo desenvolvendo um plano de ação. Esse tempo gasto na avaliação, poupa tempo em experimentações na reabilitação, correção de movimento e desenvolvimento físico.

É a velha regra do carpinteiro: Meça duas vezes e corte uma só.

Quando uma nova maneira de medir é introduzida e adequadamente controlada, existem apenas 2 razões pelas quais o profissional não adota esta nova ferramenta em sua prática:

  1. Ele não tem fé na nova ferramenta. Mais artigos ou postagens não vão lhe dar essa fé…é necessário por em prática.
  2. Ele não tem fé que seus métodos podem influenciar positivamente os parâmetros (N.T: Significando que o profissional está inseguro em relação a se será capaz de corrigir o que encontrar nas avaliações). Não é esse o desafio que todos enfrentamos?

 


Artigo original: It’s All About Motor Control.

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